Os desafios de Deus são lançados de forma singular para cada situação e necessidade pessoal. Da mesma forma que Ele orientou Abraão a sair de perto da família, Ele conduziu Jacó de volta para casa para enfrentar seu pior medo, o irmão (Gênesis 31.13).
Embora as pessoas tenham experiências que nos fornecem ótimas analogias e ensinamentos, cada uma precisa de algo específico, então não há a possibilidade de acharmos que vamos ter o mesmo tratamento de outra. Somos únicos.
Jacó saiu de casa para onde seu tio morava, por medo do seu irmão. Morou em uma terra estranha, casou e teve filhos. Mas passou por situações desagradáveis de engano e se manteve inerte (Gênesis 31.7).
Até que ele passou a enfrentar seu sogro, tomando coragem para lhe dizer aquilo que estava engasgado por anos, em um confronto que vinha sendo adiado pela sua personalidade medrosa. Mesmo dizendo que queria ir embora, acabou fugindo com sua família, sem falar com Labão (Gênesis 31.20).
Em direção a sua terra natal, outro confronto o esperava. Ele pediu que seus mensageiros fossem na frente e contassem ao seu irmão que sua passagem pela casa do tio havia sido temporária e que estava pronto para voltar com esposas e filhos (Gênesis 31.3-4).
O medo de Jacó o dominava ao ponto de perturbá-lo. Ele dividiu sua tribo em dois bandos, mostrando que as suas ideias de proteção ainda lhe conduziam por caminhos mais longos, solitários e dolorosos (Gênesis 32.7)
A quantidade de pessoas que Esaú levou consigo para aquele encontro dava uma impressão de preparação para a batalha. A mágoa que ele carregava no peito poderia gerar uma guerra que devia estar sendo planejada desde a partida do irmão (Gênesis 33.1).
Jacó teve medo, mas enfrentou o que antes havia lhe feito fugir com uma mente tomada pela culpa. Os sentimentos do momento da sua saída deviam estar voltando à memória naquele momento, então ele teve a ideia de separar sua tribo para tentar sobreviver ao ataque vingativo do inimigo (Gênesis 33.2).
A prevenção não era o ponto forte de Jacó. Ele poderia ter enfrentado seu irmão sozinho, pois o diálogo tinha que ter acontecido apenas entre os dois. Mas ele preferia seguir suas ideias de sobrevivência e seu próprio instinto desesperado de proteção.
Para que o confronto com seu irmão acontecesse, Jacó teve um tratamento experiencial de peso. A sua mente medrosa não tinha noção do que estava para acontecer, então ele se deparou com um enfrentamento real e ainda mais poderoso. Ele lutou com Deus (Gênesis 32.22-32).
O menino medroso, que costumava enganar para fugir das lutas, naquele momento se tornava um homem nas mãos do Criador. As batalhas não mais o amedrontariam, nem seus inimigos poderiam contra ele. Seria chamado de cidade murada e fortaleza moldada pelo amor de Deus.
O encontro dos irmãos aconteceu de forma inesperada. A mente ansiosa de Jacó já havia montado um plano de segregação da familia, aguardando pelo pior, o que inclusive deixou seu irmão surpreso. Mas, ao contrário de um inimigo, ele encontrou uma figura quase que paterna.
O truque da mente de Jacó fazia total sentido sob sua própria perspectiva, pois ele mesmo havia enganado o irmão e acreditava que merecia a punição. Muitos anos passaram, mas o medo e a culpa ainda estavam latentes e faziam parte do contexto ansioso das suas expectativas.
De qualquer forma, ele enfrentou o medo e foi ao seu encontro, mesmo esperando pela morte. Afinal, depois de lutar com Deus, tudo poderia ser enfrentado de frente.
Sua postura tornara-se mais segura diante das trapaças do passado, levando-o a compreender quem ele realmente era diante de Deus, da família e dos homens. Naquela nova terra, que já era habitada por outros, ele e sua família se acomodaram e tiveram a chance de um recomeço físico, mental e espiritual.
O confronto foi necessário para que uma nação fosse estabelecida. O pensamento de Jacó passou a ir onde jamais foi, seus sentimentos estavam compreendidos, suas ações mudaram para organizar sua família e surgiu um novo homem. Jacó passou a se chamar Israel.
O princípio da experiência está no contato com sentimentos reais, sem o uso daquilo que impede a visão do entendimento. O medo precisa ser tocado de forma que o enfrentamento seja inevitável.
O medo ativa pensamentos descontrolados e imagens irreais, causando ansiedade e espalhando toda a sua potência ao redor, que irradia para as pessoas mais íntimas.
Viver em função de um aspecto tão dominador só amplia a capacidade castradora do medo. Embora o confronto pareça mais doloroso, ele promove amadurecimento, quando conduzido de forma saudável.
A sensação da liberdade é compensadora. Proporciona vitalidade diante de situações inesperadas, dando novas perspectivas diante das frustrações e dos desafios naturais da vida.
A comunicação honesta faz parte do processo de uma expressão saudável que se caracteriza pela negociação aberta e aceitação das diferenças, promovendo a quebra da rigidez, do julgamento e do controle.
O confronto abre as portas do entendimento e da tolerância. Ele transforma o desconhecido em domínio, leva da destruição para a transformação, molda o que era separação pelo esforço da união. O confronto saudável não é guerra, mas paz, consigo, com o outro e com Deus.