Gênesis | Mudar a visão

Judá era filho de Jacó. Depois de, juntamente com seus irmãos, ter vendido José como escravo, ele se afastou da família. Devia ser muito difícil para ele relembrar o que tinha feito, então foi morar em outro lugar, casou e teve filhos.

Existe uma necessidade natural de independência e liberdade dentro de cada um de nós, mas a fuga, separação e rompimento de laços apenas satisfazem temporariamente esse impulso.

Quando os irmãos tramavam a morte de José, Judá foi quem os influenciou a não o fazer, então parece que ele tinha uma certa autoridade de respeito entre eles, pois, em meio à raiva, acabaram cedendo à sua ideia (Gênesis 37.26).

Ao invés de influenciá-los a acabarem com aquele plano de vingança, ele tentou agradar a todos, de forma política, e sugeriu que o rapaz fosse vendido como escravo, então forjaram sua morte para o pai (Gênesis 37.27).

Ao que parece, tal decisão diminuiria a culpa daquela violência, mas não deve ter sido dessa forma. Tomado pelo remorso de ver o sofrimento do pai, sobre a falsa morte do filho, Judá segue sem rumo para evitar o enfretamento.

O seu filho primogênito desagradou a Deus e morreu como castigo pela sua própria maldade. A sua mulher acabou sendo passada para o irmão mais novo, como devia ser o costume daquela época (Gênesis 38.7).

O irmão não pareceu ter ficado satisfeito em recebe-la e, por causa de práticas que não eram justas para Deus, também morreu. Então, Judá deve ter experimentado da mesma dor do seu pai Jacó (Gênesis 38.10).

Judá tinha outro filho, mas resolveu não lhe dar aquela mulher para que também não morresse, pois devia achar que ela estava amaldiçoada, ou algo do tipo. Então inventou uma desculpa e lhe mandou para fora de casa.

Ele enviou a nora viúva para a casa do pai dela, tirando-a de perto da sua atual família, onde estavam as pessoas que tinham reais obrigações com ela. Além do luto, ela deve ter se sentido culpada e abandonada (Gênesis 38.11).

O que havia acontecido com os filhos de Judá não foi culpa da mulher, mas foi resultado das escolhas deles mesmos. E ele acabou reconhecendo que foi injusto com ela, de forma bem desagradável (Gênesis 38.12-26).

Quando enfrentamos problemas dentro de casa, fica muito fácil achar culpados lá fora. Mas é preciso se deparar com sua própria injustiça, de forma experiencial, para que uma visão acusatória mude.

2

Às vezes, fugimos da nossa família para não enfrentarmos aquilo que temos de pior, pois não suportamos encarar a nós mesmos nas relações.

Às vezes, podemos fazer muito e outras vezes nem tanto, mas sempre existe uma opção melhor do que fugir de quem amamos.

Às vezes, julgamos as pessoas porque se torna mais fácil saber que não somos responsáveis pelo que está acontecendo.

Às vezes, culpamos quem não tem nada a ver com determinado problema, pois preferimos não perceber o que precisa mudar.

Às vezes, é difícil ter que admitir que um filho precisa de correção, pois, aquilo que pode ser corrigido reflete muito dos próprios pais.

Às vezes, é mais simples fechar os olhos para as situações desagradáveis, pois se olharmos bem de perto, podemos ver nossa própria imagem.

3

O medo pode nos tornar muito selvagens, que atacam ou fogem. Atacamos e fugimos das pessoas mais íntimas e necessárias para nossa saúde emocional. Ferimos ou escapamos de quem mais nos acolhe.

Os filhos apresentam um reflexo do que aprendem em casa e não adianta repudiá-los sem se auto avaliar e passar a ser parte ativa e não intrusiva da solução, independentemente da idade deles.

Depois que os filhos estão adultos, eles tomam seu próprio caminho, mas o laço familiar é inviolável. Então, o pai, a mãe e os irmãos sempre terão esses papeis intactos, aconteça o que acontecer.

Os pais podem e devem ser uma influência madura para seus filhos, mesmo que eles já estejam casados. O que importa é respeitar as fronteiras e saber o papel de cada um, na família de origem e na família atual.

É mais prático julgar, culpar e fugir das situações difíceis, porém, se responsabilizar acaba sendo muito pesado para quem não tem esse hábito. E isso não significa se culpar, mas se disponibilizar para mudanças de visão.