Muitas vezes colocamos os olhos naquilo que não nos pertence e então a mente pode dar início a um processo de desejo incontrolável pelo que não faz bem às nossas relações.
Os impulsos são naturais e fazem parte do nosso ser, porém somos maiores que eles e temos total capacidade de entender o que os desperta. Essa consciência nos permite o domínio.
José era formoso e a mulher do seu senhor o quis, se aproveitando da sua situação de poder. Ela tentou trair o seu marido, mas, diferente dela, José tinha princípios que o impediram de dizer sim (Gênesis 39:6-9).
A fidelidade é capaz de moldar um caráter, pois eleva a pessoa acima daquilo que naturalmente lhe movimenta para perigos. Ser fiel é uma expressão de clareza de papeis e saber que nem tudo convém.
Nessa história podemos ver dois exemplos distintos de opções, uma esposa capaz de se entregar aos seus impulsos e um servo capaz de estabelecer sua escolha, ao perceber as consequências dos seus atos (Gênesis 39:9).
Não importava em que posição ele estava, sua firmeza em não trair seu senhor e seu Deus era maior do que o desejo de um prazer temporário. Seu pensamento foi firme diante da oferta.
Mesmo correndo o risco de ser penalizado pelos seus valores, ele foi completamente sóbrio ao dizer “não” àquilo que sabia que iria fazer mal para quem ele respeitava.
Os olhos podiam estar traindo aquela mulher, mas José não se entregou a uma situação de satisfação momentânea. E ainda foi penalizado por ser fiel, sendo entregue no laço da mentira dela.
Não bastasse querer trair o marido, ela também queria que seu servo o traísse. Se sentindo inconformada pela honestidade e fidelidade daquele rapaz, uma fumaça de ira lhe cegou os olhos do desejo.
A vida é cheia de armadilhas como essa e não são todas as situações que trazem paz antes, durante e principalmente depois. Certamente a traição traria mais resultados negativos do que os que aconteceram.
A justiça para aquele rapaz fiel é feita no momento oportuno, mas não é disso que estamos falando aqui. Com o foco na fidelidade, podemos dizer que a força de um impulso pode distorcer relações, limitá-las e até terminá-las.
Ser fiel a si mesmo significa estar disposto a dizer não, quando preciso. É estar consciente dos seus valores, daquilo que inunda a mente de paz, mesmo em momentos de turbulência e crise.
Ser fiel a alguém significa não se dispor a situações que desagradem, diminuam ou descaracterizem o outro. Significa ter a habilidade de se colocar no lugar de alguém que pode ser ferido por nossas escolhas.
Ser fiel a Deus significa que somos capazes de entender quem somos, o que temos capacidade e quais as nossas fraquezas. É entender que existe alguém superior a nós mesmos e que merece nosso respeito.
Todos estamos sujeitos ao que nos desviam de algum desses três focos de apego. E muitas percepções podem ser veículos de fuga que entorpecem as emoções com falsas promessas efêmeras.
Nossas relações são estabelecidas com muito esforço, renúncia, tolerância e respeito, mas basta um movimento de desequilíbrio para derrubar cada tijolinho que levamos anos para unir e construir.
A força de um “não” pode demorar, mas traz recompensas, pois aquilo que realmente tem valor nunca se firma com solidez imediata e pode se tornar frágil se não for concedido o devido cuidado.
Não se trata apenas de um tema cultural, psicológico e religioso sobre monogamia, mas de que somos mais que indivíduos, somos uma teia de relacionamentos com uma rede de expectativas que fluem de todos os lados.
Não se trata de pressionar e definir o que é certo ou errado, mas de ter a sensibilidade de perceber aquilo que é importante para todos que nos cercam. E é fato que o mundo está cheio de pessoas indiferentes à dor alheia.
Famílias são transtornadas pela traição conjugal porque existe uma tendência de buscarmos aquilo que oferece alívio imediato, ao invés de entendermos quem pode ser ferido pelas nossas decisões.
Nem sempre estamos seguros para dizer “não” a tudo, mas cabe a nós decidirmos se colocamos os olhos duas vezes naquilo que não é saudável. Então, talvez devamos evitar o que não entendemos como dominar.
As pessoas não traem porque estão infelizes numa relação, elas se tornam infelizes por causa da traição. Elas passam a se violentar diante das suas próprias inseguranças e dão força ao que danifica a integridade pessoal.
Nossa capacidade é fundamentada na estima por tudo que nos cerca, inclusive por nós mesmos. E um ato de amor nunca é unilateral, pois garante uma troca vital entre tudo e todos.
Por isso é tão importante uma comunicação eficiente em todo tipo de relacionamento, pois abre espaço para acordos que regem esperanças alheias e pessoais, já que fundamentam bases de sólidas de entendimento.
Quando Deus resolve abominar a idolatria, está claramente nos mostrando quem é melhor para nós. Ele estabelece, a partir disso, uma forma de enxergar as relações com mais coerência.
Quando Jesus chama sua igreja de noiva, está criando laços de união que devem ser invioláveis e que exemplificam uma forma de convívio baseado em fidelidade, cumplicidade e confiança.
Quando dizemos sim para um casamento, estamos assumindo um compromisso mútuo de expectativas e responsabilidades. Estamos dizendo para todos, o que decidimos escolher conscientemente.
Quando acreditamos nos nossos princípios, estamos criando fibras rígidas de sustentação, sem julgamento e preconceito. As diferenças não existem para nos ferir, mas para ilustrar o quanto podemos ser tolerantes.
Quando estamos diante daquilo que nos distrai, podemos desviar o olhar para coisas mais valiosas. Ter uma perspectiva de resultados futuros das nossas ações nos ajuda a ser mais responsáveis.
Quando somos infiéis estamos em busca de preencher um vazio que muitas vezes é alimentado pela intolerância com as diferenças. Os parceiros passam a desprezar aquilo que mais amavam no outro.
Quando a euforia da aventura passa, o vazio volta e assim muitos persistem, tentando repetidamente. Sem perceber, eles acabam se enredando em mais frustrações, incompetências e mágoas.
Quando sabemos quem somos, temos o poder de estabelecermos pontes saudáveis e que não corrompem as nossas relações, as quais passam a cooperar para o bem que nos transcende.