José havia montado um plano para provar o arrependimento dos seus irmãos. Ele precisava entender o quanto aqueles homens haviam sentido o que tinham feito com ele e o quanto eles davam valor à sua família.
Ele colocou sua taça no saco de comida de Benjamim, para depois incriminá-lo de roubo. Assim ele teria direito de punir o “ladrão”, deixando-o como seu escravo e despedindo os demais irmãos para voltar para casa (Gênesis 44.2).
Judá havia se responsabilizado pelo seu irmão mais novo e havia dito a seu pai que seria o responsável, se algo acontecesse com ele. Então, quando o plano de José deu certo, Judá ponderou sobre tudo que havia acontecido.
Ele se ofereceu para ficar como escravo no lugar do irmão, pois seria muito doloroso voltar para casa sem Benjamim e ter que ver seu pai morrer de tristeza, como havia acontecido com a falsa morte de José.
Ele se ofereceu pelo irmão, mesmo que isso lhe custasse a vida ou a liberdade. E essa reação foi o que mostrou para José que havia arrependimento por parte dele e que os valores daquela família pareciam ter mudado.
Poucas vezes nos sacrificamos por outras pessoas, mesmo pessoas que amamos. Não precisa ser algo tão drástico, mas, um esforço simples de tentar pensar como outra pessoa, nos dá a oportunidade de compreendê-la.
Para entender alguém é preciso se colocar no lugar dela, ver com os seus olhos, sentir o que ela sente, entrar no mundo dela e, com isso, correr o risco de sofrer junto, chorar junto e provar das mesmas dores.
Trazer as sensações de alguém para seu próprio corpo é uma tarefa muito humana, mas exige a quebra de preconceitos e paradigmas que regem nossas crenças mais fortes. É um ambiente desconhecido, mas está disponível.
Quando exercitamos nossa mente para compreender, ao invés de julgar, o mundo parece pesar menos nas nossas costas. Temos a leveza da aceitação a nossa disposição em todo o tempo, mesmo quando estamos em “guerra”.
As dores no pescoço parecem desaparecer, quando assumimos uma carga mais leve. A cabeça dói menos, porque as tensões das costas se dissipam com o perdão, a tolerância e o respeito, que são muito mais suaves.
Os valores de Judá pareciam ter mudado depois de todas as consequências do que fizeram com José. Então, ele decidiu se colocar no lugar de Benjamim e sofrer as consequências de um erro que ele não havia cometido.
Judá também se colocou no lugar do pai e se permitiu sentir a dor que ele sentiria, se chegasse em casa sem Benjamim. Coisa que eles não fizeram quando armaram contra José, pois estavam tomados pela ira da inveja.
Depois de ter vivido o drama de ver o pai definhar de tristeza por algo que eles haviam feito, Judá colocou, em um discurso muito claro, o que estava em seu coração, para que fosse evitada mais uma tragédia entre eles.
Ele tinha em suas mãos a oportunidade de fazer diferente dessa vez. De colocar outra pessoa e seu sofrimento na frente do seu e de também considerar que o sofrimento do pai recairia como peso de dor para si mesmo.
Ele percebeu o quanto o valor daquela união era maior do que o risco de morrer de fome, de ser preso ou de se tornar escravo em uma terra opressora. Preferia se entregar do que ter que ver o seu pai esmagado novamente.
Ao se colocar no lugar do irmão e do pai, ele estava conseguindo entender o tamanho da sensação de perda da liberdade e da perda de um filho. Sua súplica foi tão autêntica, que ele conseguiu passar esse sentimento para José.
Sua habilidade de comunicação foi extraordinária, pois, além de contar todo o histórico acontecido até a sua decisão de se entregar, ele também conseguiu convencer José de que estava realmente arrependido (Gênesis 44.18-34).
Ele estabeleceu novos valores e prioridades com sua decisão. O real valor agora não seria mais a sua própria vida, mas a do seu irmão mais novo. E seu pai passou a ser mais prioritário pra ele do que sua própria liberdade.
O Senhor nos ensinou que devemos amar a Deus acima de todas as coisas e a amar ao próximo como a nós mesmos. Essa hierarquia de prioridade nos ensina a sermos mais maduros diante das escolhas mais difíceis.
Tudo ao nosso redor está hierarquicamente disposto e prioritariamente distribuído. Quando mudamos algo de posição, começamos a perceber problemas, como: egoísmo, orgulho, ganância, preconceito e outros.
Ao se colocar no lugar de alguém, estamos dando a essa pessoa um valor que comumente não faríamos. E quando estabelecemos prioridades em nossa vida, aprendemos a valorizar os relacionamentos de forma mais saudável.
As nossas melhores decisões são tomadas quando entendemos o que ou quem é prioridade, pois abdicamos de nós mesmos para darmos espaço ao que irá trazer paz, alegria e saúde, que é o que todo mundo deseja.
Entendi que Deus é a minha prioridade máxima e que tudo será acrescentado quando buscar, em primeiro lugar, o seu reino e sua justiça.
Entendi que minha família é uma grande prioridade. E quando se trata de abrir mão de algo por eles, tento me esforçar para fazê-lo.
Entendi que a vida me coloca em situações de difíceis escolhas e que, para tomar a melhor decisão, o melhor é ter com quem compartilhar.
Entendi que algumas dores não precisam ser vividas duas vezes, pois se tiver sabedoria para aprender, posso evitar que se repitam.
Entendi que para compreender alguém é preciso correr riscos, principalmente de sofrer as suas dores, mesmo quando já tenho as minhas.
Entendi que o certo e o errado não se definem sozinhos, mas aquilo que funciona fica mais aparente quando observo com cuidado.
Entendi que o arrependimento é uma das melhores coisas que existem, pois me torna mais sábio, inclusive me salva de mim mesmo.
Entendi que a vida de alguém é tão preciosa quanto a minha e, nesse caso, a prioridade máxima é da relação que nos une e nos sustenta.
Entendi que é difícil abrir mão de algo por alguém, mas, quando faço isso, pelos motivos mais nobres, recebo mais do que dou.
Entendi que a prioridade da vida é viver e que a morte faz parte dela, então, se eu tivesse que falar em ambas, não teria mais medo.
Entendi que continuo fazendo coisas erradas, mas sempre tenho a oportunidade certa de concertá-las de muitas formas.
Entendi que a inveja, a culpa e a vingança têm o poder que dou a elas e acabam levando para lugares áridos de desesperança.
Entendi que saber que alguém irá sorrir, com uma decisão minha, é mais recompensador do que qualquer salário no fim do mês.
Entendi que chorei por causa de muitas pessoas, mas hoje sinto alívio por ter experimentado, em cada momento, o poder dizer que perdoo.
Entendi que o mundo dá realmente muitas voltas, mas não preciso esperar pela primeira volta, para fazer algo bom para alguém.
Entendi que ainda há muito o que a aprender, mas sei que a sabedoria traz mais liberdade do que voar na ignorância e no medo de saber mais.