Jacó estava com cento e trinta anos quando se mudou para o Egito. Já era um senhor idoso, que precisava de certos cuidados especiais e específicos da sua idade. Ele tinha muita vida e experiência pesando no seu corpo cansado.
José tomou a responsabilidade para si e se tornou o provedor de seu velho pai e da sua família. Ele se colocou no lugar de alguém que iria retribuir os cuidados da sua infância e juventude (Gênesis 47.12).
O mundo de hoje envelheceu e, de alguma forma, não estamos preparados para tal. Trata-se de um tema que foi se perdendo com o tempo, agora tem retornado com muita falta de conhecimento, em como lidar com isso.
A velhice remete, infelizmente, a senilidade e inutilidade. Ainda existe muito preconceito com nossos velhinhos, que possuem tantos ensinamentos para nos transmitir e uma capacidade única diante das adversidades da vida.
Com o tempo e as perdas, eles se tornaram mais fortes. Aprenderam a lidar com o que os jovens morrem de medo, como a própria velhice e a perda da juventude ou a morte e a perda da vida, seja de alguém ou a própria.
São assuntos que se tornam compreensíveis para algumas pessoas, com mais rapidez, do que outras, mas, havendo vida, é parte dela. Saber lidar com os mais velhos se tornou assunto de quem entende, de especialistas e profissionais.
Porém, todos deveríamos ser instruídos a saber como chegar à maturidade, principalmente, ao ter contato com pessoas que já chegaram nessa fase mais tardia da vida. Mas, o medo de se enxergar naquela situação, afugenta-nos.
Afinal, a família continua sendo o melhor amparo existente. Independentemente da fase do ciclo de vida, em que a pessoa esteja, essa organização é a mais adequada para lidar com necessidades específicas.
Mas, nem todo mundo está disposto a deixar seus afazeres para cuidar de quem já viveu muito. É como se dessem uma sentença de morte para aqueles que possuem mais vida do que muitos jovens. A negligência é terrível.
O mundo ainda não sabe retribuir o que recebeu dessas pessoas e nem as suas próprias famílias, pois, muitos são abandonados e deixados para quem “sabe” cuidar deles. Infelizmente, não existe muita disposição de aprender.
A linguagem delas se torna irreconhecível, pois, parecem que estão sempre falando de algo que passou há tanto tempo, que não importa mais. Só que, as pessoas esquecem que tais coisas relatam sua própria origem e história.
É lamentável o quanto os jovens são afastados dos seus avós e como eles poderiam aprender tanto com eles. Até parece que os pais não pretendem chegar naquela idade, pois evitam ensinar aos seus filhos a riqueza da sabedoria.
Aprendemos na escola que o ser humano nasce, cresce, reproduz e morre. Mas eles esquecem de explicar que todo esse processo caracteriza a mais valiosa parte da vida, que é o envelhecimento e a maturidade sadia.
Algumas pessoas pensam que nunca vão envelhecer, ou preferem não pensar nisso. E negligenciam o aprendizado que vem de uma das poucas certezas que temos nessa vida. Se tornam alienados do tempo.
É impressionante como a transição e adaptação familiar, para o envelhecimento, ainda carrega muitos mitos e desconhecimentos, mesmo sendo algo inevitável para quem continua vivo durante longo tempo.
Existem muitas facilidades para atendimentos aos idosos em vários lugares, mas, dentro da própria família não existe uma fila de prioridade para o acolhimento aos que possuem mais idade. Isso é incompreensível de se ver.
A trajetória de cada um, que consegue a vitória de envelhecer bem, está sendo examinada com muito cuidado, até porque as pessoas estão em busca de juventude eterna, poções mágicas de saúde e outros extremos absolutos.
Os filhos adultos estão esquecendo que seus pais tiveram muita dor durante a vida, principalmente, que abriram mão de tantos sonhos pessoais para cuidar deles. E tudo que alguns dão em retorno é o abandono e esquecimento.
Todo relacionamento exige renúncias e escolhas, que nem sempre nos enchem de prazer. Mas, esse tipo de relacionamento, com pessoas mais maduras, se apresenta com muita facilidade de afastamento e rejeição.
Não significa que os filhos devam deixar de ser filhos, para se tornarem pais dos pais, pois isso já caracterizaria uma inversão de papéis. Mas, com amor, é possível se doar em respeito, gratidão e cuidado adequado.
Tudo envelhece. Nossos pais irão envelhecer e nós também vamos, se Deus quiser. Uma vez que, o relacionamento seja mantido de forma harmoniosa, o tempo passará com mais conforto, leveza e aprendizado para todos.
Em caso de necessidades específicas, como doenças, por exemplo, que é muito comum nas idades mais maduras, precisamos ser conscientes do que cada um pode fazer e até onde consegue atuar. Ajuda faz-se necessária.
Quando eu era jovem, pensava que tinha uma vida inteira pela frente. E realmente tive, mas agora nem me lembro direito como foi que cheguei aqui. Tudo passou tão depressa, que hoje vivo a saudade dos dias que não vivi.
Quando eu era jovem, eu fazia muitos planos para mim mesmo. De repente, me pego fazendo planos para meus filhos e nem me lembro quando foi que comecei a esquecer dos meus. Espero que alguém faça o mesmo por mim.
Quando eu era jovem, meus pais diziam tantas coisas que eu não dava atenção, mas hoje me pego repetindo os mesmos ensinamentos, pois passaram a fazer total sentido. Na época parecia que não me serviam de nada.
Quando eu era jovem, me irritava em ter que ouvir a mesma história, várias e várias vezes. Hoje, quando olho o semblante dos meus filhos, parece que eu vejo o mesmo tédio que sentia dos meus pais. Aos poucos vou me calando.
Quando eu era jovem, eu ficava sentado por dois minutos e não conseguia terminar uma refeição direito, pois a pressa era grande para terminar e sair de casa. Não lembro quando, comer e ficar em casa passou a ser tão bom.
Quando eu era jovem, eu tinha muito orgulho dos meus feitos. Hoje me pego celebrando algo que meus filhos fizeram e parece que são coisas mais importantes para mim, do que aquilo que não consegui fazer na vida.
Quando eu era jovem, busquei a felicidade como se fosse um tesouro escondido. Cavei em todos os lugares, mas, quando encontrei, descobri que ela não ficava guardada em meus cofres emocionais. Havia dias bons e ruins.
Uma relação saudável, com quem já viveu bastante, é uma benção, ainda mais quando ela foi parte da nossa jornada. Ser realista com a idade ajuda no apoio mútuo e contínuo. Seria bom se pudéssemos ver as coisas com uma lente temporal, que nos ajudasse a ter as perspectivas mais adequadas sobre cada etapa do ciclo da vida. Porém, a única opção que temos é escutar com atenção quem já viveu muito, pois, os ensinamentos são exclusivos. Talvez devêssemos tratar os nossos idosos com mais delicadeza do que oferecemos aos objetos históricos, sem deixar que ninguém coloque as mãos neles, para conserva-los por mais tempo. A nossa história ainda está viva e pedindo para ser ouvida.