Gênesis | Conhecendo bem

Todos os filhos de Israel estavam reunidos para ouvir o que seu pai tinha a dizer a seu respeito. E cada um teve um momento exclusivo relatado em palavras sábias e vivas, que mostravam características particulares (Gênesis 49).

Rubén foi descrito como primícias do vigor do seu pai. Resultado da força e vitalidade da juventude do patriarca Jacó. Primeiro fruto de uma vida cheia de ensinamentos e de uma história que daria início a um povo.

Simeão e Levi foram chamados juntos em atenção à violência da sua ira. Neles, ficou estampada a marca dos assassinatos que haviam cometido e da vingança que praticaram por causa do abuso de sua irmã Diná.

Judá foi colocado em uma posição de liderança, como um símbolo de alguém que viria de sua descendência para reinar com autoridade. Ele representava uma linhagem de poder, como um leão que reina com rugido forte.

Dessa forma, todos os filhos de Israel receberam parte de sua história em metáforas riquíssimas, que demonstravam um futuro profético a respeito de cada um deles, em sua individualidade, capacidade e vida.

Naquele momento, não estavam sendo estabelecidas as doze tribos de Israel, pois de José foi falado com muita consideração a tudo que lhe havia acontecido. E na verdade, foram seus dois filhos que se tornaram tribos.

O mais interessante aqui é como Jacó, ou Israel, como já era conhecido, foi preciso em descrever perspectivas tão intensas a respeito do passado, presente e futuro de cada um dos seus filhos. Respeitando a ordem de nascimento.

Cada um estava sendo descrito em um olhar de quem os conhecia com tantos detalhes, ao ponto de exibir traços atemporais da sua descendência. Era uma inspiração divina, sem dúvida, que o fazia costurar tantos detalhes.

Um pai que conhecia os filhos, com tamanha elaboração de palavras e construção de vida, podia estar em seus últimos dias, mas não mostrava nenhum sinal de falta de memória ou incapacidade de descrição.

Dizem que os pais conhecem seus filhos melhor do que eles mesmos se conhecem e aqui podemos ver um traço dessa verdade, que se tornou mais difícil de se encontrar hoje em dia, em um mundo disperso e distraído.

Seria muito bom mesmo que os pais do mundo moderno conseguissem definir e olhar de forma tão detalhada e precisa para a história de cada filho, o que eles se tornaram e como ainda é possível atuar para o seu melhor.

Teríamos uma sociedade mais harmônica se as pessoas recebessem, como principal herança de seus pais, a definição de quem eles são, o que podem alcançar e quais as qualidades e defeitos que ajudaram ou não no percurso.

Mas, infelizmente, são muitos os afazeres que se tornam prioridades para os pais que acham que não precisam conhecer os filhos intimamente. Aqueles que deixam para se preocupar, quando algo de ruim acontece.

Falamos tanto em integridade pessoal, mas não nos preocupamos com integridade familiar. E esta última só pode acontecer se houver um profundo conhecimento mútuo, sem dúvidas e máscaras que distorcem.

O conhecimento pleno foi deixado de lado para dar lugar a inúmeras formas de praticidade e ocupações que substituem o verdadeiro sentido de um relacionamento vitalício e rico, em compartilhamento real de informações.

Talvez estejamos correndo demais para chegarmos a um lugar de vazio estruturado em sombras. Vistos pelos vultos da ilusão de quem não percebe o que está acontecendo dentro da própria casa, da própria família.

É bem possível que não adiante chorar pelo ciúme daqueles que vamos deixando escapar dia após dia de nosso contato. Pois somos a parte responsável pelos valores que vão sendo disseminados com a distância emocional.

Podemos lamentar a perda, em vida, de quem um dia geramos com nossos corpos, mas esquecemos de gerar com nossas almas e ensinar com nosso espírito. A realidade tem mostrado o sentido divergente de caminhos.

Nossos filhos estão correndo para os braços de outros, pois não conseguem o amparo de quem os formou, tornando cada vez mais impossível reatar os laços dos pequenos bebês que cresceram e se tornaram indiferentes.

Não bastasse a figura ausente dos pais, a presença de corpos estranhos e desvinculados dos nossos valores está se tornando cada dia mais acessível e de forte influência para os pequenos que clamam por um abraço.

Vidas têm sido desvinculadas dos princípios familiares, por causa da negligência em um aspecto que deveria ser pelo menos parte do instinto animal. O acolhimento se tornou um ato impraticável, desconhecido e frio.

Não há substitutos para a família, mas existem imitações que vêm ganhando o espaço perdido, pela falta de intimidade em casa. A capacidade de administração familiar parece estar perdendo influência.

Se pudéssemos entender o quanto temos pouco conhecimento a respeito um do outro, talvez déssemos mais tempo para nos arriscar mais nos envolvimentos com quem um dia foi nossa razão de viver.

Mas tenho certeza que nem tudo está perdido, pois é totalmente viável recapitular histórias e gastar energia, não apenas na geração, mas também na educação e aprendizado contínuo que a vida exige.

Gn.49.2 - Pedido

Aqui está o final das reflexões sobre as relações das pessoas relatadas pela Bíblia, no livro de Gênesis. Gostaria de encerrar com um apelo às famílias pela busca do conhecimento mútuo e recíproco, sem empecilhos.

A vida está se tornando cada dia mais fácil de viver e difícil de administrar e cada pessoa que está sendo formada dentro da organização familiar é responsável pelo que se espera das próximas gerações.

Cada indivíduo é único e ávido de conhecimento e desafios, o que lhe torna perplexo com a sua falta dentro da principal fonte de conhecimento, valores e princípios. Não é fácil identificar necessidades, mas é preciso esforço.

Tudo isso está sendo deixado para segundo plano ou sendo terceirizado. Quando vemos os pais da nossa atualidade pedindo socorro, vemos que não parece mais simples gerar, dar à luz, educar e acompanhar os filhos.

Existe um turbilhão de informações disponíveis, mas poucas ensinam ou pelo menos orientam o que pode ser feito para se colocar pessoas saudáveis na sociedade. Talvez esse seja um dos maiores medos ao se pensar em ter filhos.

Espero que algumas das reflexões, que aqui estão, tenham ajudado a se pensar o que, como, por que e quando as coisas ao nosso redor mudaram tanto. Temos que aprender a resgatar informações valiosas e simples.

Há um plano maior para cada um de nós e tenho certeza que as separações que temos vivido não fazem parte deste acervo de conquistas. Já que, o que mais se espera de alguém é a proximidade como um todo.

Isso tem sido uma vontade do nosso Deus, que também é pai e quer o melhor para seus filhos, inclusive lhes conhecer em toda a intimidade. Ele tem mostrado que sua exponencial vontade é ter um contato real com cada um de nós.

Faço dessas palavras, não só um apelo, mas uma oração, para que você e sua família estejam dispostos a ter uma convivência de qualidade, em qualquer tempo e momento do ciclo de vida que estejam vivendo.

Sempre há esperança onde há vida compartilhada. E o segredo que tantos buscam está em entender as perspectivas de algo que nos foi dado de graça, para que soubéssemos administrar com cuidado: o tempo.

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