Jó | Integridade visível

O livro de Jó é um relato emocionante e cheio de interações riquíssimas, principalmente dele com seus amigos e com Deus. Esse homem sofreu perdas valiosas, como posses, saúde, filhos e nos deixou vários ensinamentos.

Ele passou por uma situação extrema de luto, a qual nos permite sentir a sua angustia diante da situação em que se encontrava, que algumas vezes ele denominou como miserável, sem sentido e sem esperança.

Jó encarou suas perdas com muita melancolia e não conseguiu achar apoio e acolhimento emocional nos relacionamentos mais íntimos. Podendo citar, neste caso, seus melhores amigos e sua própria esposa.

Ele questionava a razão do seu sofrimento e colocava em evidência seu sentimento de culpa por tudo que estava acontecendo. Também atribuía o sofrimento à incerteza da causa, o que parecia tirar ainda mais a sua paz.

No ponto máximo da sua dor, ele chegou a desejar nunca ter nascido, perdendo a razão da sua existência. Em resumo, a pergunta que ficou mais evidente nas expressões dele foi a seguinte: o que eu fiz para merecer isso?

Esse é um breve resumo do que está disponível para nós com o estudo deste livro e desta pessoa comum. Ele também é citado, em outros livros das escrituras sagradas, como uma pessoa justa (Ezequiel 14.14).

Então, vamos começar por uma característica de Jó que parece ser ímpar em toda a sua história: a integridade. Algo que eu gostaria de refletir, além da questão individual, mas também no aspecto das relações.

A integridade pessoal remete à inteira expressão de todo o ser de uma pessoa, em pensamentos, sentimentos, comportamentos, palavras e relacionamentos. Ela é marcada pela segurança entre todos esses pontos.

Parece muito com uma menção perfeita e inalcançável, pois está muito ligada às prioridades que dirigem nossas vidas e como elas interagem em nós e através de nós. Além disso, demonstra como reagimos e lidamos com tudo.

Jó devia ser a mesma pessoa, embora exercendo os diversos papeis da vida. Se Deus disse que ele era integro, então é fácil acreditar nisso. Nós não enxergamos com a perfeição divina, que vê o coração humano.

Ele o via na solidão do seu quarto, no lidar com as pessoas que trabalhavam com ele, na criação e educação dos seus filhos e no seu relacionamento com o próprio Deus. Nessas e outras circunstâncias, Jó devia ser constante.

Jo.1.1 - Quem somosQuando estamos sendo testados pelas adversidades da vida e nos deparamos em um momento de nudez e estado de total solidão, encaramos a prova de quem realmente somos. A verdade aparece com mais clareza.

Temos muitos artifícios e distrações que generalizam nosso ser e acabamos acreditando em algumas teorias criadas por nós mesmos. Na maior parte do tempo, somos definidos pelas conquistas e não pelas perdas.

Somente quando nos deparamos com a ausência total de tudo que nos confunde, é que podemos enxergar nossos reais pensamentos em um filme que roda diante da nossa mente, com e sem direito a críticos.

Nos nossos maiores e mais exuberantes estados de conquistas, aprendemos a mostrar para o mundo aquilo que gostaríamos de ser. Porém, nossos sentimentos apenas nos envolvem em uma névoa de falsa paz e alegria.

Mas são nos nossos lugares escondidos, quando ninguém está olhando, que podemos perceber o que somos capazes e quem somos de verdade. Nesses lugares de solidão, ficamos à disposição de um estranho eu.

Se listarmos os pensamentos, sentimentos e comportamentos, vamos notar que nem tudo é consistente, mas, quando conseguimos alinhar essas tres coisas com a fé, podemos perceber a presença da real integridade.

O fundamento dessa palavra é quase uma utopia quando analisamos nossa vida e as oscilações que ocorrem de um momento pra outro, dependendo das circunstâncias nas quais estamos inseridos ou envolvidos.

E, no tocante aos nossos relacionamentos, a situação ainda é mais confusa, quando vista de fora. Seja com pessoas da família ou do nosso convívio social, temos diversas propostas de conexão disponíveis para cada momento.

Tentamos ser condescendentes com tudo na vida, menos com quem somos de fato, pois, a variante inexplicável das nossas expressões não consegue dar um sentido único de compreensão e nos fazem irreconhecíveis.

É verdade que todas estas mudanças, que as vezes se tornam cíclicas, fazem parte da vida e não temos como evitar. Mas eu gostaria que pensássemos em qual desses estados nos sentimos mais reais e em quais não.

É exatamente nesse ponto que Jó foi tocado, pois, perdendo tudo que ele tinha, inclusive os filhos amados, ele não perdeu a fé. Ele pode ter perdido muita coisa, inclusive a vontade de viver, mas foi em Deus que ele se achou.

Jo.1.1 - Tudo ou nadaO que temos e quem conhecemos realmente não definem quem somos, pois, nossos piores momentos são quando perdemos algo ou alguém. E, para complicar, parece que quando perdemos tudo, todos somem.

As relações que nos permitem sermos quem realmente somos dão um sinal de abertura para a inteireza de expressão e percepção. E as relações que nos ajudam a mudar, sem obrigações, são as que mais nos conectam.

A comunicação é um ótimo termômetro de integridade de um relacionamento. Pois, através dela, podemos perceber se somos desafiados a sermos mais pacientes, tolerantes, maduros, flexíveis e robustos.

Uma relação é íntegra quando todos os aspectos do ser humano são expostos de forma coerente e honesta. Pensamentos, sentimentos, palavras e comportamentos não se contradizem na presença de alguém.

Tudo está intimamente relacionado com quem entendemos que somos e o com o significado de cada relacionamento da nossa vida. Se soubermos, inicialmente, a prioridade de cada um deles, então estaremos no caminho.

Jo.1.1 - ResumoJó foi chamado de íntegro pelo próprio Deus e sabemos que, no final do livro, ele diz que conhecia a Deus, só de ouvir falar. Mas que, depois de tudo que perdeu, suportou e superou, ele passou a vê-lo de verdade (Jó 42.5).

A história desse homem mostra que a integridade pessoal é diferente da relacional. Uma pessoa pode ser íntegra e não possuir uma relação íntegra com alguém. Na qual, um conhece o outro por inteiro, de todas as formas.

Se o próprio Jó percebeu que faltava conhecer a relação mais importante de sua vida, então realmente isso era verdade. E tudo aconteceu de maneira que ele experimentou um relacionamento íntimo, profundo e completo com Deus.