Jó se dispôs a ensinar e dar uma chance para que houvesse mais compaixão por parte dos seus amigos. Ele usou algumas metáforas para que eles pudessem reavaliar suas posturas, de acordo com o que ele estava vivendo.
Jó explicou que não seria possível se sentir bem em uma situação insípida como aquela e que, se estivesse em uma posição confortável, provavelmente não estaria lamentando, de forma tão dramática (Jó 6.5-6).
Jó disse que pedia para morrer, como se esse fosse o único alívio para sua alma. Com tal extremo pedido, ele caprichava no relato da calamidade em que estava, sem nenhum tipo de confirmação por parte dos amigos (Jó 6.9).
Jó não tinha mais forças, nem pra esperar por um milagre. Nem conseguia olhar para frente e fazer planos por causa de tanto sofrimento que seu presente lhe presenteava. Nem havia sequer esperança de sentir-se melhor (Jó 6.11).
Jó falou exatamente e com muita clareza o que esperava de seus amigos, que seria compaixão. A pessoa que deveria estar sendo consolada, ainda se dispunha a explicar como isso deveria ser feito (Jó 6.14).
Jó questionou a coragem de seus amigos em enfrentar aquela angústia, juntamente com ele, mostrando que havia medo da parte deles, em apenas vê-lo. Que também não pedia bens materiais e nem proteção (Jó 6.21-23).
Jó pediu que eles mudassem de percepção e se compadecessem dele, ao invés de serem sábios para discursar e covardes para socorrer. Sua vontade era que eles ouvissem suas lamúrias, de mais profundo desespero (Jó 6.29).
Jó argumentava, com muita segurança, que já sabia o conteúdo que estava sendo usado por seu amigo. E deixava bem cristalino que ele não buscava aprender nada da boca dele, naquele momento, principalmente.
Jó tinha realmente muita paciência e se propunha a dialogar em todo o tempo, mesmo estando em uma posição desagradável e que parecia piorada por aquelas presenças. Ele estava disposto a continuar tentando.
Jó mostrou que queria aproveitar a presença dos seus amigos. Afinal, eles deveriam ter prestado apoio exatamente durante aquele tipo de momento, mas parecia que tudo aquilo ia além da capacidade sensível deles.
Jó parecia ter uma sabedoria ímpar e aprimorada pelo sofrimento. A forma como ele falava era como se seu conhecimento viesse de longa data, mas com uma disposição tremenda para se conectar aos amigos.
Diante de tanta argumentação, que explicava a sensação de perda com real, espontânea e íntegra convicção, não precisaria mais nada para convencer as pessoas mais intimas do que se passava com aquela pessoa.
Seria mais fácil para todo nós, se as pessoas que fazem parte do nosso ambiente de convívio pudessem expressar como se sentem, de fato. Talvez até ficássemos com medo e sem coragem de enfrentar o que fosse preciso.
Algumas vezes, nem precisamos ouvir tanto para sabermos o que uma pessoa está sentindo, mas nem sempre sabemos lidar com isso. Outras vezes, ouvimos mensagens que são pistas, mas nem sempre damos importância.
A vida passa e nos acostumamos a perceber os momentos que trazem alegria, na maioria das vezes, mas sequer entendemos os mais amargos de serem vividos. Na verdade, nos tornamos emocionalmente seletivos.
A primeira opção é evitar, a segunda é fugir e a terceira é atacar. Sem nenhuma ordem específica, pois o desligamento emocional afasta demais as pessoas e não deixa sobra de coerência em nenhum tipo de sequência.
Evitamos as pessoas porque temos medo de nos ver na mesma situação. Sabemos que sempre há quem precise de nós e, simplesmente, não temos peito para nos aproximar o suficiente para entrarmos em lugares desconhecidos.
Fugimos das pessoas, quando ficamos aterrorizados de continuar vivenciando o que não temos controle. Por mais simples que seja a situação, sempre arranjamos uma desculpa para sair de perto e buscar algo melhor.
Atacamos as pessoas, quando nos vemos refletidos nelas, quando estamos completamente fragilizados no espelho que nos mostra as nossas sensibilidades. É uma visão que amedronta qualquer um.
No final das contas, o medo nos impede de vermos de perto a situação de outra pessoa e de estabelecermos conexões de cura. As possibilidades são infinitas, quando nos dispomos a ouvir, conhecer e entender um pouco mais.
Nossos relacionamentos estão vazando em direções de distância. Estamos deixando de testar e aproveitar outras formas de ver as circunstâncias, perdendo oportunidades únicas de estabelecermos pontes com bases firmes.
Deixamos de nos preencher de pessoas que estão cheias do vazio de nós mesmos, pelas nossas faltas e decepções. São causas que separam e deixam que as vidas continuem vagando e procurando novos preenchimentos.
Se não enfrentarmos o medo e não deixarmos que as almas se toquem, mesmo através da dor, não sobrará mais nada para celebrar. Pois não saberemos o que mais temos a oferecer, nem o que receber.
Nos momentos de maior dor é que temos as melhores chances de ter uma nova visão da vida. Por incrível que pareça e sem desejar que nada de mal nos aconteça, é na necessidade que nos entendemos com mais coerência.
São os nós que unem as pontas soltas e as apertam com força. Eles nos dão a grande oportunidade de enxergar as névoas de esperança que deixamos passar, sem nos tocar. Nos preparam para uma vida mais madura.
Aproximar-se de alguém, sem receios, significa ter acesso ao todo. Possibilita percebermos que não somos felizes o tempo inteiro e ninguém tem apenas boas noticias para nos dar. Abrimos espaços para serem preenchidos.
Nossas primeiras impressões devem ser questionadas e postas à prova do tempo e da aproximação genuína. Pois, se tivermos a paciência de não prever, vamos conseguir ver, rever e reaver aquilo que mais importa.
São os nossos mais absolutos julgamentos que influenciam nossas reações e nos colocam em posições que nos descaracterizam e fazem muito pior com os outros. Sabemos o que sabemos e aprendemos o que queremos.
Se não precisamos mudar as lamúrias de alguém, então estamos mais adequados ao contato humano. Se desejamos apenas as sensações que nos agradam e as informações que concordamos, ficamos distantes de todos.
Eu gostaria de poder escolher apenas as pessoas com mais empatias, mas o que eu gosto nem sempre define o que eu preciso. Se estamos sujeitos a muitas mudanças, melhor não se assustar quando elas acontecerem.
O mais interessante de perceber é a sanidade de Jó, ao pedir que os amigos mudassem suas conclusões a respeito dele. Ele estava em um momento difícil, mas isso não o impediu de ser claro com relação ao que esperava deles.
Em nossas relações, nem sempre tudo está tão claro, como nesse caso, mas, quando nos permitimos mudar de parecer a respeito de alguém, ficamos mais abertos aos toques emocionais que são verdadeiros e curam.