Jó | Volta pra casa

Jó continuou o seu discurso com total liberdade. Ele disse que não reprimiria a sua boca ao falar do que estava sentindo, pois não devia ter vergonha de expressar a sua realidade, quantas vezes fosse preciso (Jó 7.11).

Não importava quantas bocas o interrompessem, ele sabia do que estava falando. Estava vivendo dias e noites intermináveis de agonia, sem que ninguém estivesse por perto para entender o que se passava (Jó 7.4).

Seu maior desejo talvez fosse voltar pra casa e encontrar tudo como era antes. Os filhos sorrindo e comendo na mesa, a mulher feliz, lhe recebendo do trabalho e os amigos visitando e deixando tudo mais agradável (Jó 7.10).

O ato de voltar pra casa significa o reencontro com nossos pilares, com aquilo que fundamenta nossas esperanças e dignifica o ser humano. Esteja onde estiver, como estiver, saber que pode voltar deveria nos fortalecer.

Sabemos que nem sempre é assim, que muitas vezes estamos no que chamamos de lar e não reconhecemos nada ao redor. Mas, mesmo que tenhamos medo de ver essas repetições de cena, não desistimos de voltar.

O sorriso, que expressa a alegria de nossa chegada, nos conforta e dá sentido aos momentos de saída. Vemos que o que está lá fora é passageiro, pois o que nos espera é mais real e faz a vida mais confortável.

Sentados à mesa, fazemos nossas mais deliciosas refeições, cheias de energia e boas conversas. Fazemos um rito de compartilhamento, diferente de todo e qualquer outro que costumamos, em nossa rotina.

A fonte das boas vindas nos recebem como ninguém mais, pois somos quem podemos ser e, ainda assim, encontramos braços que nos acolhem. Esperamos ansiosamente pelo momento desse exemplo de aceitação.

E as visitas, que significam a nossa parte, como anfitriões, nos tornam mais queridos ainda, pois demonstram como somos necessários, inclusive para os de fora da nossa casa. É então quando tudo parece pleno.

Neste solo sagrado, experimentamos as mais reais experiências e nos submetemos aos mais avançados cursos de vida. Fazemos desse lugar um símbolo de posse e nos vemos aconchegados pelo que construímos.

É realmente magnífico pensar que sempre podemos ir pra casa. Vamos e voltamos tantas vezes, que nem nos damos conta do valor que isso tem, até que um dia nos perdemos ou demoramos para achar o caminho de volta.

Jo.7.10 - Quando sai

Quando saí de casa, pensei que eu tinha um mundo inteiro para descobrir, mas, foi quando voltei que me deparei com novidades nunca antes encontradas lá fora. Era impossível não me deparar com surpresas, todos os dias.

Eu fui tantas vezes lá fora, que esqueci o lugar aonde eu realmente pertencia. O custo foi muito alto e tudo foi pago a quem nem sequer o nome eu sabia. Pensei que estava saindo para sempre, mas não era bem assim.

Quando olhei ao redor e não vi meus pertences e minha família, questionei se um dia os tratei como se fossem preciosos. Pensei que eu poderia ter feito as coisas de outra forma, mas o tempo foi cruel e senti vergonha de voltar.

Fiquei muito encantado com as pessoas que conheci. Elas contavam histórias tão incríveis e me faziam perceber que eram muito parecidas com as que um dia eu tive. Algumas ficaram e outras eu nunca mais vi.

Os lugares davam um pouco de medo, mas era um medo agradável, que me fazia sentir cheio de vida e emocionado com tanta euforia. Fui pra lá e acolá, mas eu comparava tudo com o lugar de onde eu vinha.

Eu pensava que não tinha outra opção e de fato não tinha. Eu precisava amadurecer e construir minha própria história, mas eu havia esquecido da fonte que dava origem a toda uma nova versão da minha própria vida.

Depois que criei tudo do início, percebi que estava somente contando um pouco de quem fui e nem lembrava mais. Mudei tanto e tomei tantos rumos diferentes, que acabei apagando o lugar onde estava o princípio.

Formei novas bases e, na minha humilde ignorância, achei que poderia esquecer tudo e ter um novo começo. Pra falar a verdade, eu tive vários recomeços e sempre vi que eles pareciam demais uns com os outros.

Era muito interessante ter autonomia e independência. Eu jurava que ninguém do meu passado teria mais nenhuma influência na minha vida. Mas vi que eu acabava repetindo o que aprendi, ou fazia tudo o contrário.

Eu vivi e revivi muitas lutas e algumas delas me faziam querer voltar pro lugar onde eu tinha descanso. Só que eu já tinha ido tão longe, que ficava complicado achar o caminho de volta. Mas, não sei como, eu acabava achando.

Tudo era muito novo e sentia a empolgação de estar vivendo aquilo, mas eu sempre tinha um pensamento que nunca parava de retornar nos momentos de solidão. Era quando eu parava, pensava e dizia: quero ir pra casa.

Jo.7.10 - Onde

Não é muito difícil descobrir onde está a nossa casa, pois o nosso maior medo é de não ter para onde voltar. Quando entendemos que um lugar estará sempre disponível e a nossa espera, podemos ter a certeza de que aí estará.

Temos uma necessidade natural de sair e algumas vezes queremos fazer isso pra nunca mais voltar, mas as oportunidades da vida nos mostram que essa é uma das piores mentiras, na qual tentamos acreditar.

Descobrir que precisamos da nossa casa é um dos maiores e deslumbrantes achados da vida. As necessidades podem se confundir com as novidades, mas são as nossas rotinas sólidas que mais nos confirmam.

Podemos possuir vários lugares que nos acolhem, pessoas que nos recebem, mas somente um deles é aonde queremos voltar e ficar. Somente nesse lugar será possível reverter o medo da saída, na segurança da volta.

Jo.7.10 - Prodigo

Trazei-me depressa a melhor roupa, vesti-lhe, ponde um anel no seu dedo e sandálias nos pés; … comamos e regozijemo-nos, porque este meu filho …, estava perdido e se achou (Lucas 15.22-24) [grifo do autor].

A nossa casa é um lugar de muita alegria, para a qual podemos ter sempre a esperança de voltar. É onde somos bem recebidos e sabemos que somos aceitos, independentemente de todos os tropeços das nossas saídas.

Nossa casa tem um Pai. Nossa casa tem paz, que Ele nos dá. Nossa casa está cheia de braços familiares, prontos para nos receber. Nossa casa estará sempre no mesmo lugar e nunca mudará. Nossa casa está em Deus.