Jó | Mais ou menos

Nesse ponto da conversa, o calor das emoções estava dando margem para extravios de todos os lados. De um, estavam os amigos sem competência para acolhimento e do outro estava Jó se justificando, com acusações a Deus.

Enquanto as visitas não sabiam mais o que dizer e tentavam persuadir a pessoa em luto ao arrependimento, estavam perdendo terreno de confiança. Cumpriam um papel que não lhes cabia e isso inquietava a todos.

Jó, que não estava em uma situação agradável, misturava informações com dores e tudo mais, a sua disposição, para revidar. Ele passou de uma posição de defesa para um ataque mais explícito (Jó 13.4).

No final das contas, o que antes era um julgamento estava se tornando numa guerra, em que todos estavam saindo feridos, inclusive quem já tinha entrado nela, quase que totalmente destruído pelas perdas.

Jó parecia reagir diante de tanta acusação e desfazer-se daquilo que estava sendo dito, colocando essas pessoas no seu devido lugar. Só que, o lugar deles estava sendo estabelecido em sua própria mente cheia de expectativas.

Ele esperou que os amigos lhe dessem acolhimento e balançassem a cabeça, concordando com o que estava sendo dito ou ficassem calados. O que não teria sido uma má ideia, mas eles não sabiam fazer isso (Jó 12.5).

O próprio Jó poderia ter fortalecido ou enfraquecido o que estava sendo dito, se soubesse das limitações de quem estava falando. Porém, talvez isso fosse exigir demais de uma pessoa vivendo tamanho sofrimento.

Então, infelizmente, aquele encontro tinha virado uma confusão. Um sacudir de pedras para todos os lados, o que não fazia o menor sentido para a circunstância. Mas, o ringue entre amigos estava montado.

Independentemente de quem estava certo ou errado, o que não é o caso levar a julgamento, aquela conversa estava sendo totalmente desconstruída por razões pessoais e nada de bom estava sendo alcançado.

Devia haver raiva de um lado, medo do outro, ou ambos de ambos. O que estava gerando esquecimento do real objetivo da visita, que deveria ser uma conexão de almas capazes de suportar qualquer dificuldade.

Precisaria ter a intervenção divina mesmo, o que vai acontecer mais à frente deste livro tão rico de posturas emocionais entre amigos. O relato cronológico e a sua evolução remetem a uma cadeia muito atual da interação humana.

Jo.13.2 - Comparacao

A comparação é um dos mecanismos mais complexos que conheço. Ela pode trazer excelentes perspectivas e referências, como também podem extinguir a razão coerente em relacionamentos problemáticos.

Nós passamos a vida inteira fazendo analogias que, muitas vezes, são cruéis com as pessoas do nosso convívio e até conosco. Quando fazemos comparações entre dois seres humanos, os riscos são enormes.

Somos críticos da beleza, pois sempre sabemos dizer quem é mais bonito que quem. Somos especialistas em inteligência, pois não é difícil perder a paciência com aqueles que julgamos não entender o que sabemos.

Por essas e outras divagações, a mente humana é capaz de saborear a vitória de ser mais ou se deprimir com a sensação de ser menos. Aprendemos a fazer essas rápidas avaliações, que fornecem conclusões errôneas.

O uso de comparações deveria ter a finalidade de abraçar as diferenças e entender que, no final das contas, são elas que nos tornam singularmente tão semelhantes. A visão ampla deveria ser mais relevante do que os holofotes.

Se déssemos mais atenção aos relacionamentos, ao invés de tanto enfoque nas imperfeições individuais, seríamos mais aptos para construir pontes de sustentação. Estas são capazes de unir ilhas de difícil acesso.

É uma pena que o grau comparativo dos adjetivos esteja sendo mal utilizado, pois estamos colocando o mais e o menos como mestres das decisões. Estimulando exclusões e separações baseadas no que cada um possui.

Se tivéssemos consciência do quanto cada pessoa viveu, do que aprendeu, da forma que cresceu, das imaginações que pensou, dos medos que sentiu, das alegrias que a estimularam, nunca nos compararíamos a ninguém.

Quando dedicamos um tempinho para conhecer a história de alguém, passamos a entender as coisas de forma diferente. Ficamos mais tolerantes, como expressão de amor, mesmo nas maiores discordâncias.

Entrar no mundo de outra pessoa e ver da forma que ela enxerga nos fornece uma capacidade de conexão não comparativa. Além de envolver duas pessoas de perspectivas opostas em um laço de união inviolável.

Não podemos esquecer que Jesus ensinou que o maior seja como o menor. Então, que toda comparação seja para edificação do todo e não de indivíduos. Que a comparação seja valiosa, quando feita com humildade (Lucas 22.26).

Jo.13.2 - Mt.5.3

O orgulho é o cerne da falta de humildade de espírito. É um sentido comparativo que precisa diminuir alguém para se autopromover. Faz com que queiramos ser maiores e melhores que tudo e que todos.

Quando somos governados por esse sentimento, ficamos alheios a qualquer tipo de compreensão, pois estaremos em uma posição tão elevada, que nada, nem ninguém poderá nos ensinar algo de valor.

Estaremos postos no superlativo das relações, de forma que, qualquer pessoa que se aproximar estará sujeita às nossas críticas ofensivas e julgamentos. Colocamos a nós mesmos no centro de toda a razão.

A convivência com pessoas orgulhosas é muito complicada e beira o impossível, pois nunca conseguimos nos interpor de forma igualitária e nem nos conectar com suas dores, ou mesmo com suas conquistas.

Tudo fica centralizado na opinião do orgulho, de forma que ninguém mais tem o direito de voz. Resta apenas calar e evitar argumentações, pois tudo será repudiado de forma disfarçada ou declaradamente agressiva.

Além de um sentimento, gosto de pensar que também seja uma forma muito particular de ver as coisas. Eu preciso olhar para mim da forma que sou, aceitar os outros e agradecer a Deus por quem Ele é.

Precisamos mudar a maneira de pensar, quando se trata de pessoas, pois isso tem gerado muita guerra. Cada um carrega sua própria história, com seu tempo específico, aprendizados, perdas e ganhos.

A compreensão de identidades, posições e papeis é fundamental para que bons relacionamentos sejam mantidos com verdadeira harmonia. A simplicidade impera quando há um convívio de mútuo entendimento.

Em oposição a tal, está a humildade, que tem mostrado e organizado coisas complicadas dessa vida, principalmente no tocante às relações de confiança. Todos deveriam possuir o direito de ser compreendidos.

Humildemente, eu preciso ser ensinado. Não deixo de querer aprender e nunca vou estar satisfeito, pois nada sei. Tento ter o compromisso de ouvir e não me achar superior a ninguém, nem diminuir a verdade do outro.

A conquista da humildade autêntica é uma luta para a vida inteira, mas, o que pede, recebe; quem busca, encontra; quem bate à porta, abre. Está disponível aos que quiserem ter um contato real, vivo e transformador (Mateus 7.8).

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