Jó | Palavras de vento

O vento tem poder para destruir e para construir, ele se direciona de um lugar para o outro, sem saber exatamente qual sua origem e seu destino, faz a vida surgir e expressa o fôlego das palavras fortes.

Em uma ventania, casas são arrasadas e muita coisa é levada embora. Tudo pode ser destruído com o sopro da natureza que carrega tudo disponível e, principalmente, aquilo que não podemos com as próprias mãos.

A brisa suave facilita a expansão e proliferação da vida, transportando o pólen das flores e as sementes que irão germinar em outro lugar e se tornar em algo novo. A vida é multiplicada por uma jardinagem invisível.

Não sabemos de onde vem a sua fonte, nem se terá um fim quando chegar no lugar determinado pela sua maestria. Em que ponto nasceu e em qual irá se dissipar, não temos a menor noção, nem de espaço, nem de tempo.

O bebê precisa do primeiro fôlego quando o cordão umbilical é cortado. No choro, tal criaturinha expele seu primeiro sopro e alegra a mãe que espera por este sinal de que está tudo bem. Uma vida acaba de começar.

Por fim, as palavras são expelidas com o vigor do ar que está em nossos pulmões. Somos capazes de exalar o perfume mais agradável de todos, como também um hálito desagradável que diminui o que estiver pela frente.

E é sobre esse tipo de vento que vamos falar, sobre o que pode ser uma aliada nas construções ou não. As mais belas intenções de acolhida são envolvidas de poucos discursos, mas suaves suspiros.

Quando uma palavra não passa de vento, ela pode passar sem um sentido bem definido, como também pode estar cheia de nada. Por mais conteúdo que tenha, parecem não servir para certos momentos.

Esse tipo de investida não costuma dar frutos, nem levar vida de um lugar para o outro. É um vento que não levou os pólens para germinação e que não transportou a proliferação de esperança para os ouvidos de alguém.

Podemos nos tornar como consoladores enfadonhos que cansam a sua audiência através de julgamentos inoportunos, vãs sabedorias e conhecimentos inúteis, prontos para retirar, ao invés de passar energia (Jó 16.2).

Definitivamente, esses amigos não estavam muito preocupados com o que Jó precisava ouvir, nem muito menos com o que ele queria, ou mesmo tinha condições. Foram muitas palavras de vento dispersas no ar.

Jo.16.3 - Aprendendo

Jó aprendeu o que não deveria ser feito em uma situação de acolhimento. Ele viu o quanto estava sendo incômodo ter que ouvir seus amigos com acusações que não serviam para nada, além de machucar mais (Jó 16.4)

Ele pareceu ter entendido o que fazer se estivesse no lugar oposto, ou em outra situação que precisasse do seu apoio. Através do seu próprio sofrimento, das ausências e desconexões, ele viu que ele mesmo faria diferente.

Assim é a vida. Eu nem imagino como vamos saber o que fazer, sem sentir as maiores e mais dolorosas faltas que existem. Estas nos ensinam a consolar alguém e nos tornam fazendo parte daquilo (2 Coríntios 1.4).

Aprendemos a ser mais complacentes e dispostos a nos colocar no lugar de outras pessoas. Fincamos nossas estacas de forma mais ampla e estendemos nossas tendas, de forma a caber cada vez mais opções.

Isso se chama experiência. É ela que nos fornece uma couraça mais distinta e cheia de aparatos para serem usados em benefício de muitos. Ficamos mais envolvidos com os que estão próximos e até mesmo os distantes.

Parece que entendemos o que outra pessoa precisa em cada situação específica, pois um dia fomos nós naquela posição. E a diferença está justamente na entrega do que, um dia, não tivemos a sorte de receber.

São esses experimentos do ciclo da vida que nos tornam mais aptos e nos transformam em mestres prontos para aprender. Principalmente, quando percebemos que somos mais fortes no silêncio solitário do ouvir.

Jó parecia estar sendo treinado para algo maior do que havia vivido até aquele momento. Suas perdas não deviam ter sido em vão, pois ele estava sendo moldado para novos horizontes, de forma muito dolorosa.

Quando ele falou que faria diferente dos seus amigos, estava demonstrando uma forma nova de aproximação transcendente, que o deixava mais sensível às adversidades e ao contato real com outra perspectiva de conexão.

Talvez ele tenha passado a ser íntimo do sofrimento e capaz de sentir o próximo de uma maneira mais aprimorada. Com tudo que ele estava vivenciando, estava ficando mais aberto para novos significados.

Ele parecia estar se tornando em uma nova versão de si mesmo, inteiramente sensível à dor alheia e, ao mesmo tempo, forte para suportá-la em um formato de compartilhamento íntegro, espontâneo e eficiente.

Jo.16.3 - Ja.3.8

As palavras têm sua força em todas as dimensões, seja espiritual, mental, emocional ou física. Elas podem ser ditas para cumprir um propósito específico, geral, ou ambos, seja qual for a sua origem ou destino.

Com o poder da Palavra, Deus criou tudo que existe e soprou seu fôlego para que tivéssemos vida. A palavra sempre será algo de muito significado, pois tudo irá passar, menos o que o Senhor disse (Mateus 13.31).

Cada frase que formamos possui uma repercussão visível e invisível, deixando marcas que podem ser boas ou não. Então, em nossos relacionamentos, podemos usar algo que tem origem divina e eterna.

Quando falamos com alguém, isso se torna parte da conexão que existe entre nós e nos estabelece em um patamar de unidade e não de individualidade. Formamos vínculos através das expressões das comunicações.

Infelizmente, nem tudo soa bem, pois temos dias de boas inspirações e outros nem tanto, mas somos nós que decidimos o que provocar nos outros, na maioria das vezes. Esse é o “tamanho” do efeito da comunicação.

Para onde vão as palavras que dizemos, não sabemos e não temos certeza de que elas se dissipam em algum lugar. Assim como o vento, não sabemos até onde irá, nem se chegará para o outro como queremos.

Essa ferramenta é realmente muito complexa e cheia de desafios a serem aprendidos com a prática. Todos os dias, nós temos novas oportunidades de dizer alguma coisa diferente e que traga qualquer benefício.

A eficiência da comunicação é algo surpreendente e sacode as estruturas de qualquer relação, seja em harmonia ou o contrário. O que podemos fazer é escolher com sabedoria o que será dito e sondar a compreensão.

Também não vamos nos tornar neuróticos, avaliando tudo que uma pessoa pode pensar a respeito de algo, mas temos total domínio sobre o que falamos, no tocante às suas consequências e responsabilidades inerentes.

A prática da comunicação verbal é algo fascinante, quando vista com a devida importância e cuidado, pois ela define muito de quem nós somos e até de quem queremos ser, como indivíduos e como pessoas interativas.

O vento leva o som das palavras na medida da sua temperatura e deixa o ouvinte corresponsável pela qualificação daquilo que está sendo dito. Logo, uma das mais valiosas ofertas é saber o que está sendo entendido.