Jó | Tal sabedoria

A sabedoria humana, por maior que seja, nunca irá alcançar a de Deus, nem é capaz de realizar projetos espirituais. Para tal, é preciso a sabedoria divina e apenas Ele poderá fazer o que o homem não consegue (1 Coríntios 2.5).

Mas, Elifaz disse que a sabedoria serve apenas para si mesmo e não acredito que seja dessa forma. Se aqueles amigos tivessem tido a sabedoria de acolher Jó, naquele momento de tristeza, poderia ter sido tudo diferente.

Acredito que uma das maiores provas de sabedoria é a compreensão da situação de alguém, do que cada pessoa está passando e como podemos ser úteis em situações difíceis de lidar, como com a perda que Jó estava vivendo.

Falando um pouco sobre a capacidade de entendimento e de se colocar no lugar do próximo, o que se espera é que haja apoio, em diferentes situações, mesmo que estas sejam totalmente desconhecidas para nós.

Outra grande amostra de sabedoria, que serve para todos ao nosso redor, pode ser também a reinvenção pessoal e em seus relacionamentos, ou seja, nos papéis e nas diversificadas formas de atuação em seus convívios.

Se estar aberto para mudanças é sinal de sabedoria e isso ajuda, não só a nós mesmos, mas, a outras pessoas, logo, o que o amigo de Jó falou não reflete muita coerência. Nem, muito menos, serviria para uma pessoa em luto.

Quando nos flexibilizamos para novas circunstâncias, novas realidades e novos desafios, todos ao nosso redor saem ganhando. Então, precisamos ser sábios para lidarmos com essas variações e nos reconhecer de novo.

Sobre o aspecto das mudanças, sejam elas boas ou não, infelizmente, toda ela traz uma crise. Passamos grande parte do nosso tempo tentando evita-la e fazer com que as coisas não mudem e que as pessoas ao redor mudem.

Na maior parte do tempo, fazemos isso inconscientemente. Queremos que tudo congele e todos sejam como queremos. Porém, tudo está em constante modificação e o único ser que não muda é Deus (Tiago 1.17).

Nossa vida está cercada de mudanças e não estamos aqui para ficar assistindo apenas, pois, precisamos nos adaptar às novas realidades. Sejam estas baseadas em escolhas pessoais ou que estão fora do nosso controle.

Na verdade, devemos pedir sabedoria a Deus para lidar com as novidades. E são os nossos relacionamentos que serão os maiores beneficiados com isso, principalmente o nosso relacionamento com o próprio Deus (Tiago 1.5).

jo.22.2 - 1co.9

Nesse trecho, o apóstolo Paulo fala de como teve que se adaptar para cumprir sua missão. Como ele teve que ter sabedoria para lidar com as pessoas, em sua própria linguagem, para que algo de maior e melhor pudesse acontecer.

Sua visão foi fantástica e muito atual, pois, cada um de nós tem que lidar com muitas pessoas diferentes e que pensam de forma muito particular. O que não significa que elas não irão nunca mudar, pois, seguramente, irão.

Queremos coisas novas e fazemos de formas novas aquilo que está ao nosso alcance. As pessoas ao nosso redor estão passando pelas mesmas transformações, logo, precisamos ser maleáveis para cada etapa.

A percepção de estágios do ciclo de vida, história pessoal e os relacionamentos familiares nos falam muito a respeito de quem somos. Tudo isso influencia na nossa cultura, nas nossas crenças e na vida como um todo.

É fundamental ter um pouco de conhecimento de si mesmo, das suas limitações e dos desafios que lhe movem, pois, com essas informações, vamos poder reavaliar o que pode ser melhorado nos momentos de grandes mudanças.

Esta mesma visão também precisa ser relacional, pois, não viemos ao mundo sozinhos, nem sequer estamos sozinhos, ainda que estejamos solitários. Toda a vida está conectada, de alguma forma, com o mundo lá fora.

E para termos uma flexibilidade de aceitação e recepção dessas conexões, é preciso que haja sabedoria. Com ela, podemos entender os modos particulares e que exigem de nós uma certa capacidade de esforço e reflexão.

Por exemplo, não falamos com uma criança da mesma forma que com um adulto, pois, sabemos que a sua capacidade intelectual ainda está sendo formada e o seu aprendizado ainda está em desenvolvimento.

Por isso, ninguém poderá se relacionar com harmonia sem um conhecimento mútuo e regado de sabedoria. Esta última nos confere e legitima o próximo, ao invés de recusar por causa das diferenças e mudanças naturais.

Sendo assim, tudo exige sabedoria. Principalmente no tocante a quem somos em nossas relações. Precisamos entender o nosso papel em todas as circunstâncias e revê-los de tempo em tempo, conforme ele passar.

O que nos dá uma ideia de que, tal sabedoria, não serve apenas para nós mesmos, mas, para tudo que nos cerca e nos envolve. Ela capricha nas transformações mais complicadas e nos eventos mais difíceis de lidar.

um sabio

Um sábio me disse uma vez que não seria muito provável que ele estivesse aqui em cem anos. Ele já estava bem velhinho e falou como se soubesse que não estaria vivo por tanto tempo para realizar tudo que queria.

Este mesmo sábio viveu apenas mais um ano e deixou por escrito o que ele havia aprendido com as suas reflexões que lhe atormentavam e, ao mesmo tempo, lhe motivaram a realizar tantas coisas durante a vida.

No meio de suas anotações, percebi que havia uma carta manchada com suas lágrimas, que dizia que estava cansado demais para fazer tanta coisa e sabia que não daria tempo, mesmo que tentasse com muita determinação.

Nesta mesma carta, que parecia um trecho distinto, entre uma anotação e outra, ele falou que se sentia em paz porque havia descoberto a maior de todas as sabedorias já existentes até o momento. Ele parecia se despedir.

Continuei lendo e percebi que sua descoberta estava resumida em poucas linhas e nem precisaria de tantas páginas para descrever algo tão simples. Mas, ele preferiu deixar com o máximo de detalhes o que conseguiu achar.

Vi também que os traços e palavras iam ficando mais fracos, como se estivesse escrevendo cada vez com mais leveza. Era como se suas mãos fossem gradativamente retirando a pressão sobre o papel, com delicadeza.

Mesmo com a mancha de lágrima que espalhava as palavras, eu consegui entender que a sua vida havia sido cheia de surpresas. E que cada uma delas lhe amedrontavam e lhe faziam perceber que não sabia de nada.

Foi então que li uma frase muito impactante pra mim, pois sempre achei que ele me ensinaria o segredo da vida e como podemos ser felizes e fazer tudo que queremos. Porém, ele parecia dizer que não. Que isso não seria possível.

Fiquei muito triste porque eu também estava querendo viver mais cem anos e fazer até mais do que ele dizia que faria. Eu estava tão inspirado por sua vontade de viver e de experimentar coisas novas todos os dias.

Então, ele disse que sentiu uma felicidade enorme ao descobrir que isso seria impossível. Que tinha entendido que tudo que ele precisava já havia sido feito, que ele estava finalmente satisfeito com seu tempo e sua vida.

Ele finalizou da seguinte forma: amigo, se você encontrou essa carta e também a manchou com as suas lágrimas, então, você é a pessoa mais feliz e sábia do mundo, como eu fui. Obrigado pelos nossos momentos compartilhados.