Ironicamente, Jó falou que seus amigos “sabiam” ajudar a quem não tinha poder, “prestar” socorro ao braço que não tinha força e “dar” bons conselhos aos que não tinham sabedoria. Possuíam o verdadeiro conhecimento (Jó 26.2-3).
Jó conseguiu repreender clara e abertamente o comportamento e as palavras daquelas pessoas. Sem medo do que iria ser pensado a respeito dele, expressou sua indignação com tal inabilidade de acolhimento dos seus amigos.
Ele usou as palavras poder, força e sabedoria, para designar que a falta destas faz de uma pessoa menos afortunada que outra, então, precisariam de ajuda, socorro e conselho. Devia ser como ele se percebia.
Naquele momento, ele devia estar se sentindo impotente, pois, nada conseguia fazer para aliviar a situação em que estava. Como que inerte diante do sofrimento, das perdas e da sensação de desamparo.
Tudo que lhe assegurava um mínimo de sustento havia sido tirado de forma abrupta e inexplicável. Não parecia haver onde se agarrar e deixar de simplesmente assistir sua vida se esvair daquela forma.
Para piorar, toda essa falta de sentido e lógica estavam lhe maltratando ainda mais, deixando a sensação de que não entendia mais nada e tornara-se um completo ignorante, principalmente nos assuntos que achava que sabia.
No meio daquela confusão toda, ele ainda era obrigado a ouvir palavras de acusação e cheias de julgamentos. Palavras que tentavam confirmar a completa e total ausência interior de poder, força e sabedoria.
Na verdade, no tom irônico usado por Jó, é possível perceber que havia uma reação contrária aos seus pensamentos. Mesmo que ele estivesse completamente perdido, parecia não se dispor a engolir qualquer coisa.
Ele tentou, de várias maneiras, mudar a direção do que estava sendo dito pelos seus amigos, mas, nada parecia surtir efeito. Foi então que passou a usar um paradoxo, que significa o contrário do que está sendo dito.
Ele colocou estampado para seus amigos o que eles não conseguiam e deveriam estar fazendo naquele momento. Estando desamparado, parecia não encontrar mais nenhum mecanismo de convencimento suficiente.
Ele estava em uma situação de sofrimento agudo, mas não perdia a oportunidade de tentar ensina-los o que fazer para acolhe-lo. Honestamente, nunca vi tamanha demonstração de poder, força e sabedoria.
A nossa impotência se manifesta nos momentos de maior fragilidade, mas, são esses que nos fazem buscar algo maior que nós mesmos. Até que ficamos totalmente submersos na graça que nos é concedida (2 Coríntios 12.9).
Jó parecia estar experimentando estas três coisas e colocando para seus companheiros o que eles não eram capazes de prover. Ele parecia estar se ocupando em mostra-los que ninguém mais poderia lhe conceder algo.
Através de uma afirmação contrária ao que estava acontecendo, ele expressou fundamentos impressionantes de conexão. Não deixou aquele encontro ser um tormento completo e foi além das suas capacidades.
Tudo que ele estava sentindo de ruim estava sob os holofotes das palavras de seus amigos, como se estivesse sendo atacado por estar sofrendo. Mas, com uma delicadeza inteligente, ele utilizou o poder da comunicação.
Não ficou em silêncio apenas ouvindo aqueles julgamentos, nem se afastou para se proteger do que lhe estava atormentando ainda mais. Ele enfrentou e colocou com clareza os traços que eram faltantes para aqueles homens.
Imagino que nem tenha aumentado o tom de voz, pois, visualizo até uma frase dessas como sendo dita de forma tranquila e cheia de autoridade. Como alguém que consegue dominar a situação através da cortesia.
Bem, isso é apenas imaginação. Mas, acima de tudo, o que foi dito é muito real e capaz de mostrar como aquele homem pensava que deveria ser o amparo que ele mesmo estava precisando, naquele instante de dor.
Ele pareceu ter tido o poder de controlar as emoções negativas, ao ponto de ser firme no seu modo de pensar e compartilhar. E ainda é possível perceber que ele saiu um pouco dos exageros melancólicos do início da visita.
Teve força para suportar o que estava passando e toda aquela conversa que tentava lhe deixar mais depressivo. Pelo contrário, ele estava saindo do vazio da falta de reação e conseguindo se expressar com consciência.
Jó sabia o que queria receber dos seus amigos, no lugar de tanto conhecimento cheio de razão e insensibilidade. Ele teve sabedoria para conduzir aquele encontro, que talvez nunca tenha pensado em viver um dia.
Se isso não é poder, força e sabedoria, então, não sei mais o que seria. Cada um de nós sabe como é se sentir coagido por outra pessoa, ao ponto de nos sentirmos pior do que estávamos. Porém, Jó mostrou que estava de pé.
Conseguimos vencer, quando estamos firmados no conhecimento pleno do Deus que nos fortalece, quando o entendemos como fundamento integral da nossa existência e a sua sabedoria é esclarecida na nossa mente.
Podemos ser ainda mais que isso, se formos capazes de discernir entre as limitadas possibilidades humanas e a infinita provisão daquele que nos criou. O seu modo de agir é absoluto, perfeito e muito mais sábio que o nosso.
E, para experimentar tudo isso, é preciso a rendição genuína da fé, que está fundamentada nos eternos poder, força e sabedoria concedidos na cruz. Nessa obra completa e eterna que, ainda hoje, reestrutura o nosso ser.
É essa capacidade de entendimento que nos alicerça e desperta em nós a vontade de sermos o melhor que podemos, como pessoas e em nossos relacionamentos. Devemos ter um desejo forte pela harmonia.
Mesmo tentando de muitas formas pessoais, aprendemos que o nosso relacionamento mais sublime nos impulsiona para melhores formas de pensar, falar e agir nas interações terrenas, principalmente com familiares e amigos.
Parece que esquecemos que deveríamos ser mais ponderados em nossos relacionamentos e, principalmente, com nossas palavras. Pois, nem tudo que ouvimos e falamos faz bem, alimenta ou convém (1 Tessalonicenses 5.21).
Aprendemos a viver no muito e no pouco, em toda e qualquer situação. Somos moldados até mudarmos de valores. Nossas capacidades são testadas e, realmente, podemos tudo naquele que nos fortalece (Filipenses 4.13).
Porém, ainda somos mais resistentes às pessoas do que às piores das circunstâncias. Logo, ainda acredito que, um dos maiores desafios da vida é aprender a dar um novo significado às palavras do que nos ferem.
Infelizmente, existem muitas pessoas que tentam sugar todo o nosso poder, força e sabedoria, acabando por nos diminuir, de alguma forma. Isso nos consome e nos faz querer gritar de desespero, por tanta insensibilidade.
Elas executam uma espécie de drenagem de energia que, infelizmente, mesmo não tendo a menor intenção, acabam promovendo essa sensação repetidas vezes. Parece que isso se torna parte da presença delas.
Portanto, não devemos esquecer de usar esses três alicerces como base para vencermos desafios. Com o poder de amar, a força de compreender e a sabedoria para lidar com as pessoas, seremos mais que vencedores.