Reis | Poder materno

Exaltado é o meu poder

[1 Samuel 2.1]

Diferente de humilhada, como se sentia antes de engravidar de Samuel, Ana fez questão de declamar uma belíssima oração, na qual deu início falando do seu poder. Não mais com o gesticular da boca, mas com viva voz.

Sua boca se dilatou sobre seus inimigos ao ganhar e ser agraciada pela feliz oportunidade de ter um papel tão importante para os homens, para a família e para Deus. Ela passou a ser chamada, em alto e bom som, de mãe.

Sua famosa oração profética, que termina falando da vinda de um rei ungido para, com força, trabalhar em favor do próprio Deus. O que remetia a Davi, como também, àquele que viria da sua raiz com reinado eterno.

No júbilo de um coração humilde, que esperou pelo seu milagre como uma mãe paciente, aquela mulher se tornara parte da história que faria diferença para uma nação inteira, e também para toda a humanidade.

Ela foi o suspiro de uma tocante arma exclusiva criada para firmar passos e estender capacidades aos pontos mais desconhecidos por aqueles que são filhos. Uma mãe é capaz de transformar uma criança em um homem.

O poder que é extraído desse papel é tão elevado, que ninguém poderá dizer que sabe o que ela sente, sem ser também posta no mesmo papel. Enquanto que os outros podem ser imitados e até compreendidos de fora.

Ninguém mais sentiu o que se passa dentro do corpo com uma vida crescendo e amadurecendo lentamente nele. O evento do nascimento e a dor envolvida também nunca vão conseguir ser experimentadas por outros.

Ela mesma se torna secundária no momento da gestação, pois tudo que há de melhor dentro de si é passado para o novo ser que está sendo formado. Sua função de servir é única e supera qualquer tipo de expectativa.

O próprio alimento de um pequeno ser humano é formado dentro do seu seio e é transmitido em um dos atos de afeto mais impactantes e conhecidos pelos relacionamentos, em todos os tempos da nossa pequena existência.

Dela, nasce um símbolo de início puro. Como uma fonte de água que não se pode ver onde está e como acontece o seu surgimento. Simplesmente é um lugar de um novo jorrar de esperança, história e futuro vivo.

É, de fato, um papel único e capaz de ser moldado em um ser humano por outra vida, desde a sua concepção, até o término desta. E, mesmo que ela já não exista mais nesse mundo, um filho ainda dirá o seu nome: mãe.

Entendendo

uma mãe

É impossível entender uma pessoa sem experimentar das suas próprias experiências. Então, por favor, não sejamos imprudentes em dizer que sentimos o que alguém está passando, sem ao menos ter vivido algo igual.

Dizer que sabemos o que se passa no coração de uma mãe, é uma das piores formas de agredir a inteligência e as emoções de um ser humano. E não apenas um ser humano comum, mas da própria geradora.

Talvez se carregasse um ser vivo em seu ventre e sentisse o peso físico e emocional da responsabilidade envolvida naquela tarefa. Ou quem sabe se sentisse o seu corpo se transformar ao ponto de nem o reconhecer mais.

Passar noites sem conseguir dormir com aquele volume estranho, sacudindo de um lado para o outro. Ficar pensando na dor que terá que enfrentar quando o dia tão esperado tiver chegado e se vai dar tudo certo mesmo.

Seria preciso que se pudesse entregar uma parte do seu corpo para que uma outra pessoa se alimentasse e ter a sensação de estar ficando mais fraco por causa da quantidade de nutrientes que lhe são levados.

Provavelmente, se vivesse o trauma de um nascimento natural e pudesse sentir como se seu próprio ser estivesse sendo pressionado e cortado ao ponto de expelir aquele ser que já é tão amado, mesmo sem conhecê-lo.

Enfim, vou parar de tentar descrever uma coisa única que não vivi, nem poderei. Vamos apenas perceber que são os detalhes da nossa experiência que nos atribuem papéis únicos e não os eventos vistos por todos.

Uma mãe já é mãe, antes do nascimento do filho. Um papel nos é designado pela descoberta de qualidades, despertadas pela vivência prática da entrega genuína de todo o ser. É como uma parte de quem somos e nos dá sentido.

E, quando um papel é assumido pela pessoa escolhida, isso se transforma em poder. Depende apenas da sua própria vontade e não de diplomas caros, formações exuberantes e nem dos melhores livros existentes.

É algo natural e tão forte quanto o movimento da respiração, quanto a digestão de um alimento, quanto o próprio pensamento ou mesmo, como o bater rítmico e capacitado de um coração de uma verdadeira mãe.

Portanto, se há o interesse em entender como funciona o pensamento de uma mãe, é melhor parar com o esforço e tentar respeitar aquilo que é desconhecido para qualquer um que não viveu o mesmo.

Não querendo ser consolada

Mateus 2.18

Nesta passagem profetizada por Jeremias e cumprida na época de Cristo, Deus revela o choro inconsolável de uma mãe que perdera seus filhos. Aqui pode-se ver o terror da chacina das crianças de Belém (Jeremias 31.15).

Uma mensagem forte e com a visão divina do quanto sofrimento aquelas mães viveram, ao perder seus filhos de forma brutal. E, através do choro da matriarca, houve revelação de um sentimento singularmente experimentado.

Deus poderia ter falado sobre o choro de uma nação ou de todas as mães, mas, nessa metáfora foi tocado o fundamento essencial de uma perda, através da forte lembrança daquela que perdeu a vida ao ser mãe (Gênesis 35.17).

O poder da emoção materna é elaborado de forma tão nítida, que até tentamos nos colocar no lugar daquelas pessoas que perderam seus filhos de colo, mas, somente usando a figura da mãe é possível compreender.

O entendimento desse papel faz-se necessário para que haja correção de valores, de acordo com a percepção do que uma mãe é capaz de sentir. Ela é realmente um instrumento único de amor, em sua forma sublime.

O próprio Deus do universo expressou a sua dor, diante daquela atrocidade, com a mais bela das analogias terrenas de um coração sangrando pela perda de seu filho. Foi como um mistério aberto para quem pudesse perceber.

Somente dessa forma poderia ser possível entender um pouco daquilo que vive uma mãe, mesmo em uma situação tão extrema. Sabendo que ela é quem chora, ao ponto de não querer ser consolada por ninguém (Mateus 2.18).

Esse é um dos pontos fortes de um amor capaz de se doar por outro, sem pedir ao menos um consolo que seja. Nessa vivaz imagem de uma geradora, cuidadora e protetora, vemos um pouco do poder materno.

Que possamos ter um coração aberto para compreender que uma profecia tem uma mensagem completa de sentido. Não apenas um aviso, não apenas uma previsão, não apenas um intuito, mas, além disso, um ensino.

Ensino de que somente uma mãe, seu papel e sua figura seriam capazes de explicar um momento. Ela que não se incomoda consigo mesma para ter a paz de ver o seu filho com vida, até em melhor situação que a sua própria.

Espero que, com essas poucas e incompletas palavras, eu possa ter também entendido e conseguido mostrar o quão importante é essa pessoa geradora de vida e possuidora de um reconhecimento além do poder terreno.