Não ouviram a voz de seu pai
[1 Samuel 2.25]
A voz de Eli foi ignorada por seus dois filhos. Eles estavam cometendo atos desagradáveis para Deus e que estavam ficando conhecidos pelas pessoas. Seu pai tentou adverti-los, mas não teve êxito, ao seu modo.
Vamos pensar o seguinte: Eli tinha dois papeis envolvidos nessa história. Tanto o de pai, que lhe colocava numa posição de educador dos seus filhos, como o de sacerdote, que deveria ajudar a manter as leis em cumprimento.
Esse homem tinha responsabilidades sobre as regras divinas e familiares. Ambas representavam linhas de atenção e direcionamento específicos, além de terem questões em comum, como se fazer ouvir, por exemplo.
Quando se tratava das leis divinas, suas falhas eram muito nítidas, ao ponto de serem conhecidas e faladas pelo povo. Além de serem graves, por permitir que seus filhos profanassem aquilo que era sagrado.
Sua autoridade paterna também era questionável, já que falou com seus filhos com muita clareza e não foi sequer ouvido. Não havia respeito daqueles rapazes com relação ao pai, como tal, nem como autoridade religiosa.
Ambas as visões de poder estavam sendo confundidas por aqueles corações imaturos e de pouca ou nenhuma tendência ao bom caráter. E, se eles faziam isso com o seu pai e sacerdote, a quem viam, imagine a Deus.
Como não tinham uma lição de responsabilidade, dentro do próprio exemplo do pai, no aspecto religioso e familiar, não deveriam também saber o que fazer com relação aos seus impulsos cheios de emoções fervilhando por agir.
Eli teve uma bela oportunidade de fazer as mudanças necessárias dentro de sua própria casa e, principalmente, para com as atividades sagradas, mas não repreendeu os filhos com a severidade necessária (1 Samuel 3.13).
Ele julgou um povo durante quarenta anos e não conseguiu conduzir seus filhos por um caminho mais disciplinado e com esperança de revisão de atitudes, conforme era esperado pelos homens e por Deus (1 Samuel 4.18).
Enfim, eles não eram mais crianças e pareciam também não ter um ouvido ensinável e passível de aprendizado. Eram responsáveis pelos seus atos e, com certeza, foram alvo das consequências dos mesmos (1 Samuel 4.11).
O preço da displicência de um pai foi muito alto e com ampla disseminação de suas faltas como tal e também como sacerdote. Seus filhos tiveram que ser tratados segundo o rigor da lei de quem sabe como ser um pai de verdade.
Qual o filho a quem não corrige seu pai?
Hebreus 12.7
O filho que não é corrigido pelo seu pai corre esse risco. Pode se tornar submisso de coisas que não possui experiência para lidar e ficar sujeito às complicações que são consequências de atos desorientados.
Quando não se tem experiência em um assunto determinado, é possível que haja negligência, ou mesmo inconsequência, com relação às frustrações que fazem parte das nossas escolhas, por mais pensadas que sejam.
Por isso, é preciso ter um coração ensinável e capaz de compreender que estamos nessa vida para sugar conhecimentos de forma contínua, para que estejamos disponíveis ao aprendizado, com humildade.
A disponibilidade para aprender com quem tem mais tempo de vida é uma característica de alguém que teve a oportunidade de receber o amor de uma condução gratuita e cheia de nuances divinas de ensinamento.
Imagina, então, o resultado de aprender com quem tem sabedoria eterna e se dispõe a ser pai, ainda quando não temos essa figura terrena por perto. É realmente um privilégio ser ensinado pelo Deus e Pai do Senhor Jesus.
Privilégio que é compreendido com mais facilidade quando temos um pai que nos corrige e ensina com paciência as realidades visíveis e invisíveis dessa vida. E tem a missão de formar corações mais atentos à sabedoria.
Talvez esse seja o ponto alto de uma figura paterna na vida de uma criança. Capacitar um ser humano à compreensão de uma expressão viva de amor e dedicação, para que isso seja multiplicado e passado às gerações.
Adolescentes e até adultos estão em um desenvolvimento despreocupado com esse princípio natural de exemplo. Famílias inteiras estão perdendo a visão de que há uma necessidade dessa presença de autoridade.
Presença que representa, de forma terrena, aquilo que já é perfeito e incontestável no céu. Que leva as pessoas no colo em um semblante de cuidado e proteção únicos, capaz de tecer segurança em seus filhos.
Eles são muito mais que provedores, são, na plenitude da sua masculinidade, as pessoas designadas para apoiar de forma delicada uma das mais complicadas tarefas familiares, que exige uma mescla de poder e servidão.
Este é um pai. Aquele que está acima na hierarquia, como autoridade maior de proteção e força. Mas, ao mesmo tempo, também está na base dela, suportando e amparando com poder e correção formadora de rotas.
Eu não tive
Um pai
A ausência do pai pode trazer inconvenientes conflitos de papel e personalidade com relação a outras autoridades. É como se fosse muito difícil entender o sentido das diversas hierarquias que existem lá fora.
Eu não tive um pai presente e isso me custou muitas cabeçadas desnecessárias, inclusive me deixou paralisado em situações complicadas, nas quais eu não tinha sequer condições de lidar ou pedir ajuda.
Por diversas vezes, me peguei tentando me superar excessivamente, ao ponto de não enxergar barreiras e limitações acima de mim mesmo. Tudo porque não havia conhecido esse papel que passa tanta confiança.
Era uma falsa liberdade que me deixou preso à necessidade egocêntrica de superação e também me fez pensar que minhas conquistas supririam aquela falta, ao mostrar para as outras pessoas que eu conseguia ter e fazer.
Quando eu me sentia perdido, tinha que achar um outro caminho sozinho e solitário, que nunca era o de casa. Afinal, quando não se foi ensinado para onde voltar, qualquer um vai servir de desvio e consolo temporário.
Pois é. Infelizmente nunca vou saber o que é ter a direção de um pai e não posso ficar pensando que, por isso, não aprenderei. Posso dizer que aprendi muito das formas mais dolorosas que conheço, mas estou vivo.
Usar essa falta como desculpa para justificar rebeldias também foi um artifício muito usado, durante longos períodos de tempo. Mas sei dizer, com riquezas de detalhes, o que esse comportamento me custou até hoje.
Enfim, me sinto afortunado por não ter sido um filho que teve a sorte de viver uma segurança familiar com a presença da autoridade paterna. Não que isso tenha sido uma vantagem, mas estou aqui para contar um pouco.
Não tivesse sido por essa falta e perda, talvez eu não percebesse a oportunidade de outras presenças e ganhos. O equilíbrio da vida foi generoso comigo quando viu que alguma coisa precisava ser feita com relação a mim.
Foi quando eu pude sentir uma voz penetrante e completa, que dizia coisas nunca antes ouvidas ao meu respeito e prometia todas as promessas que eu não tive o prazer de ter na minha infância. Ele diz o seguinte:
Não temas, porque eu sou contigo; não te assombres, porque eu sou teu Deus; eu te fortaleço, e te ajudo, e te sustento … Porque eu, o Senhor teu Deus, te tomo pela tua mão direita… (Isaías 41.10 e 13).