Intercederei por ti [1 Samuel 19.3]
Na luta para manter seu amigo vivo e livre da ameaça do seu pai, Jônatas falou pra Davi que iria interceder por ele junto ao rei, mesmo correndo o risco de não ter sua atitude aprovada pelo seu próprio pai.
Na conversa com Davi, Jônatas pediu para que ele se escondesse enquanto ele falaria com seu pai. Davi o fez e esperou pacientemente pelo retorno do seu amigo, que, já era sabido, não o deixaria na mão.
Então Jônatas falou com seu pai, dizendo que Davi não havia feito nada de errado e que merecesse punição, ainda reforçando o que Saul já sabia, que tudo que ele tinha feito havia sido benéfico, inclusive para o rei.
Jônatas deu ênfase na inocência do seu amigo e em seus feitos que trouxeram tantas alegrias ao próprio rei. Fatos que, em outro momento, foram desejos dele e do povo, como a libertação do povo filisteu.
Jônatas citou o que havia de mais excelente em Davi, na tentativa de lembrar quem ele tinha sido até o momento em que seu pai deixou de apreciá-lo. Apreciação essa que sumiu sem motivo justo, apenas por inveja.
O amigo de Davi acreditou nele, confiou ao ponto de se oferecer para interceder por ele, mesmo sabendo do desafio que iria encontrar nessa tarefa. Se pôs no seu lugar, sentiu a sua dor e entendeu seus pensamentos.
Somente dessa forma é possível interceder por alguém, acreditando no motivo principal da intercessão, entrando no problema que não é seu, tornando-o como tal, ao ponto de apossar-se deste para si.
Não é tarefa fácil, pois requer imersão naquilo que está fora de si mesmo, em outra pessoa, em uma dor latente muitas vezes. E sentir a dor de alguém é sair do pedestal de expectador para se tornar vítima inocente de um algoz.
Muitos pensamentos de juízo aparecem nessa tentativa, pois enxergar com os olhos de alguém é uma das ações mais difíceis pra nós, principalmente pelo nosso senso crítico, muitas vezes tão contraditórios.
Mas quando estamos dispostos a interceder, o problema também é nosso, dói na mesma proporção, sem atenuações e nos concede a vontade imperativa de resolvê-lo, mesmo que o preço seja muito alto.
Jônatas foi este intercessor, que sentia a mesma dor de Davi. Se este perdesse a vida, seria um lamento dele mesmo, seria o fim de algo tão precioso. Ele intercedeu e não estaria contente se não o fizesse.
Esvaziou-se a si mesmo
Filipenses 2.7
O maior exemplo de intercessor é Jesus. Ele deixou toda sua glória para se tornar humano como nós, se esvaziou de tudo que tinha para ser como nós, estar entre nós, sentir como nós e sofrer em nosso lugar.
Este é o clímax do significado da intercessão. Tornar um propósito maior que você mesmo, deixando de lado os próprios interesses e vontades para se colocar no lugar do outro, em benefício do outro.
Jesus nos ensinou o valor da intercessão de forma soberana e divina, algo que devemos tentar imitar, mesmo na certeza de que não chegaremos próximo do seu exemplo de amor e sacrifício.
Ele pagou um preço muito alto ao chegar a pedir que os que lhe crucificavam não fossem vistos como culpados, pois não tinham consciência do que estavam fazendo (Lucas 23.34).
Pediu ao Pai que não nos tirasse desse mundo, mas que nos protegesse de todo o mal que aqui reside. Ele estava voltando pra sua glória inicial e pensou nos que aqui ficariam (João 17.15).
Citou aqueles que ainda nem existiam, mas que seriam tocados por suas palavras, pedindo a unidade entre todos, assim como ele tinha com o Pai. Pessoas que seriam tocadas por esta oração em outro tempo (João 17.20).
Tomou sobre si as nossas enfermidades e transgressões, levou a culpa por todos e se entregou para outros tivessem a salvação eterna. Foi o nosso substituto para que tivéssemos acesso ao Pai (Isaías 53).
Jesus arrancou de si a máxima expressão de sacrifício pelo outro, de tomar para si toda a responsabilidade de conquistar o cumprimento da lei e tornar-se o sumo sacerdote, aquele que intercede por todo um povo (Salmos 110.4).
Logo, o amor é a fundação da intercessão. O poder soberano que transcende o seu eu para alcançar o toque externo do próximo, para o próximo e sem ganho pessoal, nem interesse próprio.
É saber que há um propósito maior a ser conquistado e todo o esforço e sacrifício será para benefício de outra pessoa. Não há espera de retorno, nem cobiça por parte nos ganhos.
É preciso escolher se esvaziar de si mesmo e entregar o seu melhor para que alguém seja recompensado pelo que você fez. É preciso se encher do outro, seja qual for o tamanho da dor. É preciso amar como Deus ama.
Com o coração
aberto
Ah Senhor, que podemos fazer ou pedir que não seja pelo teu espírito? Que força poderemos ter para pedir algo se não for um desejo do teu próprio coração, meu Deus? Como algo bom poderá sair de nós mesmos?
Toda boa vontade vem de ti, somos apenas tua forma escolhida para colocar em prática aquilo que já desenhaste nas telas da eternidade. Nada pode ser criado por nós, que já somos feituras de tuas mãos.
O teu coração determinou que estaríamos em íntima comunhão contigo para sermos parte dos teus desígnios. Formamos contigo, criador e criatura, o laço proposto por ti nos fundamentos do tempo.
Em todo nosso ser está latente a necessidade de atender aos teus cuidados, que são bons e agradáveis, na absoluta perfeição. Tu nos envolve em coisas maravilhosas demais para nosso entendimento.
Os mistérios da existência estão escondidos em tuas palmas, liberadas de formas suaves de expressão, conforme nossa capacidade de compreensão. Nada poderíamos absorver se não pelos teus dons.
O que é santo ainda é uma visão embaçada para nossa visão míope e deficiente. Nem todo recurso natural conseguiria traduzir em palavras humanas o que e quem tu és, diante de tanta grandeza sem limite.
Como pedir por alguém se não sabemos pedir para nós mesmos, se não fosse pela tua própria vontade de abençoar alguém? Que força poderíamos ter se tu não nos mantiver de pé para interceder e lutar por alguém?
Eis aqui o teu servo, teu instrumento de benção porque assim escolheste. Santifica todo o meu ser para que haja poder vindo de ti mesmo através do teu instrumento preferido, combinando tua criação contigo.
Põe nos lábios do teu ungido as palavras e gemidos próprios para oferta ao Deus vivo e perfeito. Que elas fluam poderosamente como rios de água viva e bençãos sem medidas. Tudo pela tua bondade incondicional.
Expressa da forma sublime do teu amor o desejo que unir pessoas em um propósito comum. Faz com que um coração seja plenamente revelado a outro coração, para que seja possível ver, ouvir, saber e sentir como alguém.
Que todo fardo e toda dor seja compartilhada, inclusive contigo, pois é quem pode de fato levar e suportar todas elas, sejam quais forem. Torna nosso coração sensível em íntima conexão com o próximo. Abre a nossa voz.